Dissecar. Desvelar. Desvendar. Divertir. Divergir? Não há limites quando desconstruir e ressignificar são premissas. Quando se bate o olho em uma das obras da Aline Chaves temos a convicção de que por todo sempre fomos traídos e não sabíamos. Manipuladas é mais do que o nome da exposição que abre nesta quarta-feira, dia 4 de setembro, às 19h30min na Galeria Municipal de Arte Gerd Bornheim (Casa da Cultura), em Caxias. Na mostra, Aline manipula nossos sentidos, mais do que a imagem. A curadoria é da doutora em Artes Visuais, Silvana Boone.
Originalmente, cada uma das obras retrata mulheres sob a ótica de pintores homens, entre os séculos 16 e 19. Aline nos conduz a pensar a respeito da construção desse imaginário quando disseca as mulheres, como se estivesse a lhes devolver a alma em uma cirurgia espiritual.
– O meu objetivo é esse pensamento sobre a representação da mulher e a reflexão sobre a arte. Quando tu representa alguém tu tem o controle. O retrato tem muito disso, o pintor controla o que tu vai ver. E talvez essas mulheres não tivessem nada a ver com a forma como elas foram retratadas – questiona Aline, 24 anos, artista visual e acadêmica do Bacharelado em Artes Visuais, na UCS.
Manipuladas é sua primeira exposição individual em Caxias. A mostra também diverte, porque subverte. É pintura o que Aline faz? É considerada uma obra de arte?
– O original é um meio de trabalho. É a mesma coisa que a tinta para o pintor... – divaga.
O traço de Aline desvela, mesmo não sendo pintura. E todos os elementos que foram brotando na obra, sejam flores, animais ou caveiras, deram asas não apenas à imaginação, mas a um universo de novos significados da vida dessas mulheres.
– Minha ideia é a dicotomia dessa estética, da pintura clássica, trazendo para a arte contemporânea. Quis trazer esses elementos que talvez nunca fossem colocados ali em um retrato de uma mulher, como o grotesco, que quase nunca é relacionado à mulher. Porque ela tinha de ser pura, linda e maravilhosa, retratada como uma princesa ou rainha – ironiza.
Doce dicotomia que é a arte de viver sabendo que a certeza é morrer, sejam rainhas ou plebeias. E por isso, as donzelas e senhoras eram imortalizadas em retratos, assim como seguimos a fazer através da fotografia.
– Gosto da ideia de juntar duas coisas que não combinariam, como flores e caveiras. Flor é associada à natureza e vida e, a caveira, para muitos lembra a morte.
No final das contas, seja através dos sentidos ou da ressignificação do olhar sobre a mulher, seja pela estética, pela fruição ou por vingança mesmo, Aline nos manipula, mas também nos dá o controle nas mãos enquanto estivermos a observar as suas obras. E a propósito, pode perguntar a Aline se ela realmente pintou as obras.
– Eu acho até um elogio alguém me perguntar como pintei – brinca, manipulando a nossa reação.
Programe-se
O quê: Exposição Manipuladas, de Aline Chaves.
Quando: Abertura quarta-feira, dia 4 de setembro, às 19h30min. Visitação até o dia 25 de setembro. De segunda a sexta-feira, das 8h às 18h. Sábados, das 10h às 16h.
Onde: Galeria Municipal Gerd Bornheim (Casa da Cultura - Rua Dr. Montaury, 1.333 - bairro Centro - Caxias).
Quanto: Entrada franca.
Curadora: Silvana Boone, doutora em Artes Visuais e professora da UCS.