Há uma canção do Cartola, o poeta que sempre viveu à margem, mas versou como poucos sobre amor, que diz: Queixo-me às rosas / Que bobagem / As rosas não falam / Simplesmente as rosas exalam / O perfume que roubam de ti. As rosas realmente não falam, mas se falassem, quantas histórias poderiam compartilhar. O mesmo pode ser dito à respeito das rosas de Júlio César Andreazza (1928-2014). Reconhecido como um dos mais respeitados joalheiros, fazia cada peça à mão e sob medida.
Júlio volta a ser notícia por conta de uma série de exposições sobre natureza-morta, que culminará com a mostra de 60 telas pintadas à óleo e exibidas nos salões nobres do Colavoro Sanvitto, dia 10. Mas quando o nome de Júlio voltou à cena, de imediato as pessoas, que conviveram com ele, lembraram das suas joias.
– Ele era conhecido no mundo inteiro – enfatiza a sobrinha Elizabeth Sehbe Fichtner, curadora da mostra de pinturas.
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Casarão da família Sanvitto, na Avenida Júlio, em 1968
Guerino Sanvitto: dos primórdios ao Colavoro
A repercussão do seu trabalho como joalheiro realmente ganhou o mundo. Uma das suas garotas-propaganda na Europa era a condessa italiana Angiolleta Miroglio Cattani, que foi diversas vezes fotografada usando as peças de Júlio.
Em uma reportagem do jornal O Estado de S. Paulo, em 12 de julho 1969, intitulada As Rosas de Júlio César são de ouro, o artista definiu da seguinte forma o seu trabalho: “Faço a peça para a pessoa que vai usá-la por isso ela não deve ser vendida, nem emprestada pois não combinará com outra pessoa”. Obcecado pelo processo de criação, queria ver o trabalho não apenas terminado, mas perfeito. Na mesma reportagem, o jornalista descreve: “Quando chega ao final e não gosta, desmancha tudo e começa de novo”.
Em 1971, o então presidente do Brasil Emílio Garrastazu Médici seria recebido pelo norte-americano Richard Nixon. Eram anos de chumbo, mas a primeira dama brasileira só preocupava-se com o jantar presidencial em Washington. Para brilhar, Scylla Médici encomendou a Júlio uma joia, a que está a usar na foto acima.
Esboço das joias
Os desenhos ao lado são de Júlio César Andreazza e atualmente estão com a sobrinha Elizabeth Sehbe Fichtner. São esboços das peças que ele produzia manualmente.
– O material que ele usava para fabricar as joias prejudicou a mobilidade das mãos, por causa da química, por isso que ele começou a pintar – revela Elizabeth, apontando a década de 1970 como o período de transição entre o Andreazza designer de joias e o Andreazza pintor.
Casa Branca
É curioso lembrar que Nixon, em 8 de agosto de 1974 acabou renunciando. Em resumo, seu partido espionava e grampeava os opositores desde a eleição, em 1972, quando Nixon foi reeleito. Depois de extensa investigação, e também por causa de grampos de telefonemas no escritório oficial do presidente, comprovou-se que Nixon comandava o esquema. Qualquer semelhança com fatos recentes no Brasil é mera coincidência?