Quando Zelita Rauber, 68 anos, deu à luz sua primeira e única filha, Andressa Rauber, 36, enfrentou dificuldades nos primeiros dias de amamentação. Ficou preocupada com a demora para produzir leite em maior quantidade e, depois, com as rachaduras no bico do seio. Na década de 1980, os recursos com que contava para tirar dúvidas sobre a maternidade eram, principalmente, experiências anteriores de parentes. E para garantir o leite da criança, valia até mesmo apostar em dicas mais ousadas.
– Até simpatia de colocar chave no sutiã eu tentei. Foi trabalhoso, mas não deixei de dar o peito até voltar a trabalhar. Tinha vezes em que chegava a colocar panos para absorver o leite – recorda a hoje avó da pequena Clara, de dois meses.
A filha e hoje mãe, Andressa, revela que, mais de três décadas depois, a insegurança com relação à amamentação é a mesma:
– Não sei o que vai acontecer comigo quando eu voltar a trabalhar em novembro – disse Andressa, ao ser tranquilizada pela consultora de amamentação Marina Lozano Bangel:
– Vai ser bom também. Tenho outros casos semelhantes em que as mães voltaram e amamentam até hoje – incentiva Marina, que também é enfermeira especializada no assunto.
A diferença entre as mães de primeira viagem do passado e a dos dias de hoje é de que atualmente elas contam com muito mais informações disponíveis sobre o tema em diversas plataformas. E podem até mesmo contratar uma profissional especializada. Andressa iniciou a consultoria em amamentação com 34 semanas de gestação. Era para ser mais de um mês antes do nascimento do bebê, mas a pequena Clara acabou vindo ao mundo uma semana depois do primeiro encontro de preparação da gestante com a consultora Marina. Assim como Zelita, Andressa demorou setes dias para produzir bastante leite, mas o trabalho preventivo a deixou mais tranquila para oferecer os benefícios da amamentação à pequena Clara.
– Na prática, sempre acreditei que eu e minha filha nos entenderíamos. Claro que fiquei ansiosa quando não vinha o leite, ainda mais que ela era prematura. Eu tentei me acalmar e tomei muita água. E, no sétimo dia, vieram os tão sonhados 30 mililitros.
Segundo a consultora Marina, uma das principais dúvidas das mães é com relação à quantidade de leite.
– Sempre acham que não é o suficiente. O bebê quando nasce tem o estômago pequeno e, por isso, a mãe produz pouco leite. Com o passar dos dias, aumenta o estômago da criança e a mãe também amplia sua produção. O que orientamos é sobre a fisiologia, sobre como é importante se alimentar bem e ter calma, porque a amamentação também está ligada ao sentimento da mãe – explica a especialista.
Marina orienta pais em cursos de gestantes, fala sobre as mudanças no corpo da mulher, parto, banho e os primeiros cuidados com o recém-nascido, mas percebe que o assunto de maior interesse é o que envolve a nutrição dos bebês.
– As mães até se esquecem do parto de tão preocupadas que estão com a amamentação – destaca a consultora.
As orientações de Marina são variadas. Há questões mais comuns, sobre a chamada “pega” correta, que é a forma como o bebê faz a sucção, e outras que estão se tornando cada vez mais frequentes, porque envolvem mães com próteses de silicone, além dúvidas sobre como funcionam tratamentos, como a aplicação de laser para auxiliar no tratamento de problemas como inchaço e cicatrização do mamilos. A busca pela especialização no assunto veio da própria experiência, quando teve seu filho Otávio, hoje com 2 anos e 11 meses:
– Ele queria mamar muito, rachou o bico do meu seio, tinha refluxo. Foi um primeiro mês horrível. E não conhecia ninguém especializado no assunto na época para me ajudar – relata Marina.
A enfermeira foi buscar, então, maior conhecimento em causa própria e fez o primeiro curso no Instituto Mame Bem, em Porto Alegre. Depois se especializou em UTI pediátrica e já está de olho em uma pós-graduação em aleitamento materno. O que era apenas um interesse pessoal hoje é uma rotina profissional. Em média, Marina faz quatro atendimentos domiciliares por semana.
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Sono sem choro
Olívia, hoje com dois anos, foi acostumada a dormir no berço desde o nascimento e “pegava no sono” com facilidade. Tanto que a mãe, a ginecologista e obstetra, Lissandra Maioli, nem sabia que havia profissionais do sono atuando em Caxias. Quando a criança estava com nove meses, teve uma virose muito forte e os pais resolveram levá-la para compartilhar a cama a fim de monitorar a febre noturna. Foram duas noites assim e quem disse que Olívia quis voltar para o berço?
– Ela chorava muito, depois despertava várias vezes. Acordava no meio da madrugada e levávamos até três horas para ela voltar a dormir. Foi aí que comecei a pesquisar na internet e brinco que a rede social é adivinha, porque me mostrou justamente a única consultora do sono que mora em Caxias – destaca a mãe.
A consultora era Fátima Novello, formada em Marketing e Administração, que virou educadora integrativa do sono após seu filho, Lucas, agora com três anos e meio, nascer.
– Tive muitos momentos em que chorei de exaustão. Por sorte não cheguei ao ponto de mães que chacoalham os filhos, mas ele acordava de meia em meia hora. Eu tive depressão por não dormir. Muitas vezes estava com ele, mas era apenas de corpo presente. Todo mundo dizia que era normal a criança não dormir, mas quando comecei a me inteirar sobre o assunto e ver o quanto o sono era importante, resolvi ajudar outras pessoas – relembra a profissional, hoje com certificação internacional e nacional como educadora integrativa do sono infantil pelo Institutte Family Wellness e como educadora parental pela Positive Discipline Association.
A maioria dos atendimentos que Fátima faz é pela internet, até porque não é este tipo de profissional que vai ninar a criança. A visita domiciliar é muito mais para identificar o ambiente e a rotina familiar, o que também pode ser feito por fotos e vídeos.
Os pais começam respondendo a um questionário sobre a rotina com a criança, em que eles mandam até mesmo imagens do quarto, da iluminação noturna, e vídeos de como a criança costuma dormir. Em seguida é marcada a primeira reunião para que a própria consultora possa entender melhor a dinâmica familiar e solucionar algumas dúvidas. O terceiro passo é a profissional repassar um plano de sono feito de acordo com as características da relação entre pais e bebê e com o momento vivenciado.
O acompanhamento da profissional segue para saber se as estratégias adotadas começam a surtir efeito ou se serão necessários novos ajustes. Segundo a especialista, um dos maiores desafios é explicar aos pais que não se muda um hábito de uma hora para outra:
– Muitas vezes há uma expectativa irreal, de que o trabalho vai funcionar imediatamente ou que criança vai dormir 12 horas – alerta Fátima.
No caso de Olívia, a mãe percebeu que o mais rápido foi ajustar as sonecas.
– É a chamada janela do sono, o tempo que o bebê consegue ficar acordado entre um período e outro. É preciso identificar os sinais do sono, uma das principais dificuldades dos pais. Sabe quando as pessoas dizem “quanto mais cansado, melhor”? Isso não acontece. Como o bebê ainda não tem autonomia para pedir para dormir, são os pais que precisam identificar o momento certo – orienta a consultora.
Já para Olívia voltar a dormir sozinha, um desejo dos pais, demorou um pouco mais. Mais precisamente, 28 dias seguindo o plano previsto para a menina. As crianças aprendem rápido, mas mudar o hábito leva mais tempo e depende também da firmeza dos pais. Lissandra conta que precisou aprender com a consultora como colocar em prática a disciplina positiva. Olívia já reconhecia a autonomia dela para dormir, mas os pais não estavam seguros disso.
– E aí não queríamos deixá-la chorando. A cada dia eu fui dando mais tempo de espera para atendê-la e não fazia de imediato. Dizia que ela não precisava chorar, que a mãe estava ali, mas que era hora dela dormir. Demorou alguns dias para a mudança, mas funcionou – conta a mãe, acrescentando que Olívia dorme hoje por volta das 20h30min e acorda na faixa das 8h30min.
O conceito repassado pela especialista foi o de trabalhar com o choro acolhido em vez do choro suprimido, que é aquele que simplesmente não se deixa chorar.
– Os pais não permitem à criança colocar o dedo na tomada só para ela não chorar, não é mesmo? – compara Fátima.
A especialista diz que tem percebido uma procura cada vez maior de gestantes em busca de uma consultoria preventiva. A profissional trabalha a expectativa dos pais versus a realidade, e destaca que entender o funcionamento do sono antes da criança nascer pode fazer com que a família ajuste o ambiente de acordo- com o que funciona melhor para cada um.