O conflito de Um Ato de Esperança, a estrear nesta quinta (02), às 19h30min, da Sala de Cinema Ulysses Geremia, em Caxias, não é novidade, mas sempre pertinente e atual. O enredo trata da história de Fiona Maye (Emma Thompson), implacável juíza da Alta Corte inglesa, especializada em casos de Direito Familiar, que tem diante de si um dilema entre a cruz e a espada. Adam Henry (Fionn Whitehead), um garoto de 17 anos, foi diagnosticado com leucemia, mas recusa-se à transfusão por causa do dogma das Testemunhas de Jeová, que segundo sua crença, Deus não permite a mistura de sangue.
Onde começa a liberdade de o jovem decidir por si, porque já está a beira dos 18 anos, e até onde vai o limite da lei? E mais, qual o jugo da fé, herança dos pais, sobre os ombros de Adam? De um lado, é o clamor da liberdade de culto, como desabafa Adam: "Está sendo intrometida, Meritíssima". E de outro lado, como diz a juíza Fiona, "Este é um tribunal da lei e não da moral".
Além desse dilema, Fiona precisa ainda encarar o desgaste do seu relacionamento com o professor Jack Maye (Stanley Tucci). A casa cai quando Jack decide abrir seu coração e dizer que gostaria de ter um caso com uma mulher mais jovem. Amoralidade ou autenticidade? A juíza mais uma vez se vê entre a cruz e a espada.
Um Ato de Esperança é dirigido pelo britânico Richard Eyre. Não espere linguagem rebuscada, ousada ou montagem surpreendente. Eyre é da escola do cinema clássico, que privilegia a atuação dos atores em detrimento de um conceito estético inventivo. A carga dramática e os plots (a tensão entre personagem + desejo + conflito) são pontuados por música erudita. Essa formalidade é um traço autoral de Eyre, que tem na bagagem filmes como Iris (2002), com Judi Dench e Kate Winslet, e Notas sobre um escândalo (2006), com Cate Blanchett e mais uma vez Judi Dench.
Aliás, a música é o fio condutor da trama, estabelecendo as conexões em meios aos sentimentos de amor e repulsa, ou ternura e virulência. Em especial a canção Down By The Salley Gardens, com poema de William Butler Yeats (1865-1939).
"Nos Jardins da Salley, meu amor e eu nos conhecemos;
Ela passou pelos Jardins Salley com pequenos pés brancos como a neve.
Ela me ofereceu um amor fácil, enquanto as folhas crescem na árvore;
Mas eu, sendo jovem e tola, com ela não concordaria."
Yeats escreveu a música a partir de uma antiga lembrança em que ele havia visto uma mulher cantarolar uma canção nesse tom de doçura e verdade.
Um Ato de Esperança nos faz pensar onde está o nosso coração. Será que temos sempre de escolher entre a cruz e a espada? Não podemos viver debaixo da fé de cada um, com suas implicações e consequências, mas também receber da poesia a esperança lírica e amorosa, que talvez não provenha de nenhuma outra fonte além da poética?
AGENDE-SE
O quê: Um Ato de Esperança (1h45min, drama, Inglaterra)
Quando: sessões de quinta a domingo, às 19h30min
Onde: Sala de Cinema Ulysses Geremia, do Centro de Cultura Ordovás (Rua Luiz Antunes, 312, bairro Panazzolo - Caxias)
Quanto: Os ingressos a R$ 10, e R$ 5 (meia-entrada para estudantes, beneficiários ID Jovem, idosos e servidores municipais)