"Eu quero ser incluído na sociedade". Esse é um dos tantos anseios compartilhados no documentário Compro Sonhos, com estreia marcada para hoje em Caxias. O apelo, proferido por uma das quase 40 pessoas que aparecem no filme, carrega uma força que norteou todo o conceito da produção dirigida por Robinson Cabral. Ao disponibilizar um sofá para sentar e um microfone para falar frente a uma câmera, justamente no espaço mais democrático da cidade, o documentário independente acabou oferecendo também voz a histórias que não costumam importar, protagonismo a quem vive à margem e inclusão a personagens invisíveis.
– É um mundo que a gente desconhece, parte daquela galera está no fundo do poço, sem perspectivas. Mas são pessoas que precisam ser ouvidas, estão desamparadas. A praça é como altar, ali eles se reconhecem, ali podem ser eles – diz o diretor.
A ideia do documentário nasceu para um edital da Funarte. Cabral pensou, inicialmente, em perguntar quais eram os sonhos de moradores de comunidades indígenas. Sem aprovação naquela época, ele acabou retomando a iniciativa com um olhar antropológico local. Escolheu a praça Dante Alighieri para instalar sua câmera e, junto ao diretor de fotografia Breno Dallas, deu início a uma imersão muitas vezes dolorida. A dupla passou 10 manhãs do abril de 2018 gravando por lá e embarcando em histórias cheias de entrega emocional.
– Teve muita troca durante o processo, nós ficamos muito apegados àqueles depoimentos. Eu e o Breno saíamos abraçados, emocionados pensando sobre qual era nosso papel ali. Tivemos que nos afastar um pouco para poder criar a narrativa do filme – explica Cabral.
A cada sonho compartilhado em frente as câmeras, a equipe do documentário oferecia o pagamento de R$ 1. Teve gente que não aceitou receber e teve gente que voltou mais de uma vez para contar o mesmo sonho e garantir a moeda.
– Lembro de uma menina que disse que tinha vergonha de gravar o depoimento, mas pediu: “posso contar o meu sonho para ti?”. Fora das câmeras, ela me disse que tinha passado no vestibular de Direito, na FSG, mas tinha vergonha de frequentar as aulas, achava que iam rir dela. Ela contou aquilo e foi embora, um dia depois voltou e pediu se eu podia pagar o R$ 1 pelo sonho dela, pois precisava almoçar e estava sem dinheiro – lembra.
Entre os depoimentos registrados, a esperança por uma vida melhor, a fé em Deus e os relatos de abandono são os mais comuns. Há quem fale abertamente da dependência química, há quem sonhe em ser outra pessoa, há personagens claramente esquizofrênicos e outros donos de uma lucidez que impressiona. Mas talvez o que una mesmo todos eles seja a capacidade de não parar de sonhar.
– O filme traz a arte de novo a serviço da vida, dos encontros e do protagonismo oferecido a quem precisa – aponta Cabral.
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