Há quem espere o ano inteiro para se jogar no glitter sem dó durante o carnaval. O microplástico, disponível em inúmeras opções de cores, realmente tem a cara da folia, mas, quando deságua no oceano, torna-se um verdadeiro vilão ao meio ambiente. Além de levar centenas de anos para se decompor, a micropartícula contamina a fauna marinha e torna-se perigosa, inclusive, à saúde dos seres humanos.
— O glitter, assim como outros microplásticos presentes no oceano, absorve produtos tóxicos, como pesticidas, metais e outros poluentes. Confundido com alimento, esse material acaba sendo ingerido e fica bioacumulado no organismo de diversas espécies marinhas — explica Renata Cornelli, coordenadora do curso de Engenharia Ambiental da UCS.
Ela lembra, também, que parte desse material pode acabar no organismo dos seres humanos, por meio do consumo de frutos do mar ou, até mesmo, pelo uso do sal marinho nos alimentos. Ainda em 2017 uma pesquisa realizada pela Universidade Estadual de Nova Iorque encontrou resíduos plásticos em 90% do sal que chega à mesa dos consumidores. Outra análise, de pesquisadores da Coréia do Sul e do Greenpeace, encontrou a mesma proporção de microplásticos presentes, com amostras de sal de 21 países da Europa, América do Sul e do Norte, África e Ásia.
De acordo com Renata, todos os plásticos que chegam aos oceanos se tornam microplásticos em determinado estágio da decomposição. O glitter acaba sendo o vilão maior porque chega às águas com mais facilidade, em grande quantidade, e já no formato de micro-partícula.
— Quem não quiser abrir mão de usar o produto, pode removê-lo com algodão ou toalha demaquilante antes de exaguar o rosto, evitando que ele escorra pelo ralo — completa.
Não deixe de brilhar
Do ano passado pra cá, o assunto "glitter vilão" tem sido disseminado e, na mesma proporção, surgem opções para que ninguém fique sem aquele brilho — que todo mundo gosta. Foi buscando uma alternativa mais ecológica, para uso pessoal, que a maquiadora caxiense Carolina Marques Guerra descobriu o bioglitter. A opção agradou tanto que ela acabou virando revendedora da marca carioca, Glitra, com uma paleta divertida de cores em uma composição de manteigas, ceras e óleos naturais, além da purpurina biodegradável, feita à base de celulose de eucalipto.
— Sempre cuidei muito da separação de lixo em casa, entre outras coisas e, quando descobri que o glitter era um dos plásticos mais poluidores, parei de usar, encontrando depois essa opção biodegradável — conta a estudante de Estética e Cosmética da FSG, que também vem optando por maquiagens mais saudáveis e cruelty-free (que não sejam testadas em animais).
Carolina conta que a ideia do no-glitter está sendo bem recebida na cidade, contemplando seu objetivo que era, justamente, reduzir esse impacto ao meio ambiente de uma forma mais ampla.
— Eu passei a revender pois queria trazer para cá essa opção. Vi que as pessoas começaram a repensar também outros assuntos relacionados ao meio ambiente, até porque não adianta usar glitter biodegradável, canudo de alumínio, e continuar jogando lixo no chão — observa.
Faça o seu bioglitter
Com preços que giram em torno de R$ 50, as marcas ecologicamente corretas ainda estão distantes da realidade de muitas pessoas. Isso não impede, porém, que o bioglitter se torne a febre do carnaval - presente, inclusive, nas maquiagens dos integrantes do Bloco da Ovelha, que aderiu oficialmente à novidade neste ano.
A onda pode ser tranquilamente seguida com receitinhas caseiras que garantem o brilho à folia. Os ingredientes vão desde sal, pó de mica, até o bom e velho açúcar de confeiteiro.