“Opa! Tudo bem?”
Com a voz compassada de quem dedicou boa parte dos seus 66 anos à cadência do samba, Sérgio Rosa – ou simplesmente Serginho – atende ao telefone pontualmente no horário marcado para a entrevista. Filho de Arnaldo Rosa, fundador do Demônios da Garoa, ele lidera a segunda geração do grupo paulistano que conquistou o Brasil com sucessos como Saudosa Maloca, Samba do Arnesto, Trem das Onze, Iracema e As Mariposas.
Prestes a completar 76 anos de boemia, o conjunto hoje formado por Serginho (afoxé), Ricardinho (pandeiro), Canhotinho (cavaquinho) e Dedé Paraizo (violão 7 cordas) retorna à Serra gaúcha para encerrar, no domingo (20), a eclética programação do Paralelo Festival, em São Francisco de Paula – a última apresentação do conjunto na região foi em Caxias do Sul, no Aldeia Sesc de 2016.
Em 15 minutos de conversa, o artista não dispensou o bom humor ao relembrar a trajetória musical e a inesquecível parceria com Adoniran Barbosa (1910-1982), além de projetar os próximos passos do conjunto vocal brasileiro com mais tempo de atividades ininterruptas:
SETE DIAS: Qual o segredo para manter o sucesso em 75 anos de grupo?
SÉRGIO ROSA: Acredito que esse sucesso é porque o Demônios da Garoa vem conseguindo, ao longo do tempo, agradar os jovens. Nas apresentações, a gente vê o avô, o filho e o neto. Vê crianças pequenas, de três, quatro anos, cantando nosso repertório. Isso é muito gratificante.
O que mudou no jeito de fazer samba ao longo desse tempo?
Não nos demos o direito de mudar (o jeito de fazer samba). De repente nosso público não aceite. O público não concebe o Demônios da Garoa subir no palco e não cantar Saudosa Maloca, Iracema, Samba do Arnesto… nós somos quase obrigados a cantar essas músicas, se não o público vai dizer “isso não é Demônios da Garoa” (risos).
Como vocês chegaram a essa “fórmula” de mesclar humor com letras muitas vezes tristes?
Essa foi uma das nossas criações: uma parte jocosa nas músicas. O Adoniran (Barbosa), por exemplo, já tinha gravado Saudosa Maloca em 1949 e não fez tanto sucesso. De repente a gente começou a cantar a mesma música, mas diferente do jeito que o Adoniran tinha gravado e aconteceu. Caiu no agrado do público os nossos din-din-don, quais-quais-quais e cascaringundum. Foi o que deu cor e cara à interpretação.
E qual sua música preferida no repertório?
Cada um tem uma preferida. A minha é Apaga o fogo, mané. Não só pelo sucesso, mas pela história. É como você falou antes: uma música tragicômica. O cara fica esperando a mulher voltar pra casa e no fim encontra um bilhete dizendo “pode apagar o fogo, mané, que eu não volto mais”.
Qual a relação com o público do Sul? O gaúcho gosta mesmo de samba?
O samba não tem dono. É a raiz da música popular brasileira. Em Manaus se faz samba, no Sul se faz samba, em São Paulo, no Rio, em Minas... se faz samba em todo Brasil. Não tem fronteiras. E o gaúcho aprecia muito o nosso trabalho.
O que você projeta para o futuro do Demônios da Garoa?
É muito bacana continuar esse legado. O projeto é que meus filhos Ricardinho e Junior façam do Demônios o primeiro grupo centenário da música brasileira com atividades ininterruptas. Não com os mesmos componentes, mas como algo que se passa de pai para filho.