Tive um professor de reportagem que a cada aula repetia: ao contar a história de alguém, é preciso descobrir o que move aquela pessoa. Encontrar a motivação por trás de cada personagem era o que, para ele, valia a pena. Importa menos saber o que a pessoa faz, mas sim por que faz. À época eu achava até engraçada a insistência nesta questão, que reverberava como um refrão pela sala de aula: "o que move essa pessoa"?
Passados alguns anos, tenho reiterado diariamente a pergunta que trouxe não apenas para o trabalho de repórter, mas para as minhas relações e inquietações pessoais: o que move essa pessoa? Aliás, o que me move?
Investigar o que dá sentido à vida pode descortinar as verdades mais bonitas sobre alguém, mas também as mais dignas de permanecerem encobertas pela aparência. É onde se revelam afinidades que sustentarão uma amizade ou uma paixão duradoura. Algumas das pessoas que mais gosto têm quase nada a ver com o meu modo de ser, mas tudo a ver com minha forma de enxergar a vida.
O convívio nos impõe a necessidade de vestir uma variedade de máscaras. Interpretamos diferentes papéis em casa, na rua, no trabalho, no namoro. Nada de errado, não fosse o excesso de interações alheias à nossa vontade, para além do aconchego das pessoas que gostamos de ter por perto. Um acúmulo de situações que com o tempo faz nublar a visão de quem somos e de onde residem nossas verdades mais íntimas.
Talvez eu nunca descubra o que me move, de fato. Pode ser que minha primeira pergunta a quem me atender lá em cima seja: "o que me moveu? Em tudo o que fiz, buscava o quê?" Mas é uma busca que vale a pena, uma vez que pode nos conduzir ao caminho da motivação correta, termo muito comum nos textos budistas, aos quais recorro com frequência.
Para Buda, a motivação correta seria a de trazer benefícios a outros seres e assim entrar num estado de paz interior. Sem aspirar a elevação espiritual dos monges, contentaria-me em encontrar minha motivação verdadeira. Que se não for a mais correta, me permitirá trabalhá-la num esforço para estar mais atento ao que move minha vida e a de cada pessoa que cruza o meu caminho.
*O colunista Ciro Fabres está em férias