O astro mexicano Gael García Bernal parece referenciar um dos produtos mais exportados de seu país de origem – as novelas – no longa Estás me Matando Susana, estreia desta quinta (06) na Sala de Cinema Ulysses Geremia. Mas fique tranquilo, a obra do diretor Roberto Sneider não traz o galã vestido em roupas bregas, usando um bigode duvidoso ou chamando sua amada por nomes compostos. Pelo contrário, Gael usa aqui a roupagem contemporânea do legítimo homem “descolado”, sim, entre aspas porque o descolado aqui também representa um monte de coisas que precisam ser desconstruídas. O lado mexicano que mais aflora no personagem Eligio é mesmo o da veia dramática para lá de exagerada – o próprio nome do filme já dá pistas disso. O roteiro escolhe acompanhar pela perspectiva masculina um caso onde a maior vítima é a mulher. Assim, o espectador vê as fragilidades do protagonista desfilando na tela, ganhando tons que vão do dramalhão à comicidade.
A história de Estás me Matando Susana começa quando a personagem do título decide sair de casa. Escritora, ela se muda para os Estados Unidos para participar de um concurso de contos e também para fugir da cafajestagem do marido, um ator muito chegado a noitadas, farras e casos extraconjugais. Quando se dá conta de que foi abandonado, Eligio se desespera de uma maneira praticamente infantil, inclusive ligando para a polícia para registrar o “desaparecimento” da esposa – mesmo ela tendo levado todos pertences pessoais consigo. Inicia aí o périplo do personagem na tentativa de resgatar a esposa, que ele trata como uma espécie de propriedade.
A todo momento, Eligio se coloca em situações que o expõem ao ridículo – arruma briga, chantageia, trai, chora e esperneia – e apontam para uma leve crítica do roteiro ao machismo velado presente nas relações. As vontades e frustrações de Susana não ganham muito destaque, são somente contempladas por meio do olhar infantil e dramático do personagem masculino. Essa escolha narrativa escancara ainda mais a instabilidade de Eligio. Se a mulher é costumeiramente taxada como “a louca” das relações, fica claro que aqui é o contrário.
Como a maior parte da história se passa nos Estados Unidos, onde o marido abandonado vai em busca da ex, há muitas cenas cômicas que sugerem o embate de culturas tão diferentes como a americana e a mexicana. As brigas públicas do casal – num espanhol muito rápido, em tom sempre alto, envolvendo choro e embates físicos – são motivo de estranhamento aos costumes locais. Aliás, as cenas cômicas concedem um bom campo para Gael exibir seu talento. O premiado ator mexicano contribui muito para o sucesso da narrativa, garantindo ótimos momentos na telona.
Além de incitar – se posicionando de forma tímida – uma boa discussão sobre os papéis nas relações, Estás me Matando Susana também preenche lacuna como filme de entretenimento. E soma-se a isso um ótimo trabalho de trilha, com o melhor do rock mexicano.
Programe-se
:: O quê: comédia mexicana Estás me Matando, Susana, de Roberto Sneider.
:: Onde: Sala de Cinema Ulysses Geremia, no Centro de Cultura Ordovás (Rua Luiz Antunes, 312).
:: Quando: estreia nesta quinta (06) e fica em cartaz até o dia 16, com sessões de quinta a domingo, às 19h30min.
:: Quanto: R$ 10 e R$ 5 (estudantes, beneficiários ID Jovem, idosos e servidores municipais).
:: Classificação: 14 anos.
:: Duração: 102min.