Qualquer um que se interesse por blues e já foi atrás da história dos principais nomes do gênero, deparou com um traço em comum em suas biografias: a vida marcada por todo tipo de privações e dificuldades e a superação pela arte. No Brasil, poucos artistas que se aventuraram no ritmo que nasceu no delta do Mississippi podem se considerar tão blueseiros quanto José Geraldo Rodrigues, o Zé Pretim, atração inédita do 11º Mississippi Delta Blues Festival, que inicia amanhã em Caxias do Sul.
Origem humilde na zona rural de Inhapim-MG (seu primeiro instrumento, um cavaquinho, foi adquirido pela mãe em troca de cinco quilos de feijão); aprendizado musical autodidata com os ouvidos grudados no rádio; mudança com a família para o Mato Grosso do Sul, onde se aprimorou como músico e fez parte de bandas de rock n' roll; a descoberta do blues e o início da carreira solo tocando nos perigosos garimpos no interior do Pará; rodar o Brasil tocando em bares e restaurantes por cachês miseráveis. Até se tornar um nome conhecido no meio musical (sua vida mudou ao ser descoberto pela jornalista da Rede Globo Mariana Godoy, que fez a ponte até o Programa do Jô, em 2005), Zé Pretim viveu o blues de uma maneira muito próxima a de Robert Johnson, Muddy Waters e B.B. King. Mas o que ele encontrou no ritmo vai além da admiração pela música.
— Eu nasci com um dom e apaixonado pela música. Toco vários estilos, mas foi com o blues que me identifiquei mais e estou levando essa bandeira. Blues para mim é paz, harmonia, amor, respeito, repartir e pensar no outro, ter humildade. Eu sou simples, nunca quero tudo pra mim. Levo a minha vida com blues, paz e amor — diz o músico, de 64 anos.
Além da técnica apurada e da voz rouca e potente, outra característica marcante no som de Zé Pretim, que no MDBF tocará acompanhado de Caio Ignácio (bateria) e Sydney Valle (baixo), são as releituras com pegada blueseira para clássicos da música brasileira, como Asa Branca, Juazeiro, Chico Mineiro, entre outros. É quando se encontram o menino de origem caipira e o homem tocado pela música negra norte-americana, mostrando que, quando se fala de sentimentos, a linguagem é universal. O estilo, contudo, é único.
— Acho que fui descobrindo meu jeito de tocar e cantar, porque ficar imitando os outros não é a minha praia. No começo tu tem que se inspirar em alguém, mas com o tempo fui encontrando a voz que me representa e que eu posso fazer bem — destaca.
No início deste ano, Zé Pretim foi uma das atrações do festival Psicodália, em Rio Negrinho-SC. O MDBF será sua primeira apresentação no Rio Grande do Sul.
Onde e quando
Zé Pretim se apresenta no Hopson Stage (palco principal do MDBF), quinta-feira, às 22h15min, e no Mississippi Stage, sábado, às 20h e 21h.