Por volta das 19h desta quinta, dia de abertura da 11ª edição do Mississippi Delta Blues Festival (MDBF), os sons que recebiam o primeiros visitantes na Estação Férrea já davam boa amostra de um dos papéis fundamentais do festival desde sua origem: abrir espaço tanto para o blues com assinatura local como para estrelas internacionais, que vivem o gênero musical em sua essência. Enquanto a voz empolgante de Rhaysa Santos (jovem talento caxiense à frente da banda Rhay's Soul Project) ecoava no palco Magnólia, os veteranos norte-americanos da Trash Panda Creek Band mostravam as raízes do blues/folk no Front Porch Stage. Encontro de gerações e de identidades distintas que ajudam a formar a gênese super plural do festival.
Outras multifacetas do mesmo gênero também puderam ser vistas no palco principal, batizado de Hopson Stage nesta edição. A abertura ficou por conta da prata da casa Elegance — formada por figuras tradicionais do festival como Tita Sachet e Rafa Gubert —, entoando clássicos internacionais em versões super classudas com pitadas de jazz/blues/soul (destaque para I've Had The Time of My Life, trilha do filme Dirty Dancing, hit bem inesperado num festival de blues).
Já quando o mineiro Zé Pretim subiu ao palco, o blues ganhou cores mais brasileiras, com tonalidades que lembram a nossa zona rural e o trabalhador sertanejo. O grande trunfo do guitarrista e vocalista é reverberar no palco sua identidade brasileira misturada à paixão pelo blues: o que resulta em versões emocionadas de canções clássicas do nosso cancioneiro como Chico Mineiro (Tonico e Tinoco), Rio de Lágrimas (Tião Carreiro e Pardinho) e Um Violeiro Toca (Almir Sater). O caldeirão das referências de Zé Pretim se completa com Kleiton e Kledir (Paixão) e Tim Maia (Sossego), não sem passar por acordes de Bill Haley (Rock Around the Clock), Deep Purple (Smoke on the Water) e até Michael Jackson (Black or White).
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Já o blues do guitarrista Ian Sieagal, atração que encerrou o palco principal, trouxe compassos de mais longe. O britânico fez um show puxado para o country, com participação de músicos caxienses e de outros tradicionais participantes do festival, com o guitarrista Álamo Leal e o harmonicista Joe Marhofer (The Headcutters). As bandas de apoio formadas para acompanhar as estrelas internacionais do MDBF por aqui confirmam outro papel importante do festival, a troca musical que dá a quase todos os shows uma cara de jam session profissional.
A noite de clima agradável e a possibilidade de ganhar um ingresso extra para a quinta-feira na compra do passaporte do festival (uma grande bola dentro desta edição) fizeram a movimentação na Estação Férrea ser maior se comparada às noites de abertura do MDBF de anos anteriores. O primeiro dia do festival também funciona como termômetro para sentir se as mudanças previstas para a edição vão agradar ou não. Entre novidades positivas de 2018 está o acréscimo de arquibancadas ao redor do Front Proch Stage — que, felizmente, sobreviveu à ameaça de ser extinto, no ano passado. As arquibancadas tendem a valorizar ainda mais as apresentações que rolam naquele espaço, tão querido por quem frequenta o festival. No caso da Trash Panda Creek Band, que fez dois shows nesse palco durante a quinta, só a presença de um baixo acústico, um banjo e um bandolim em sua formação já eram o suficiente para chamar atenção dos visitantes.
Os show que fecharam a programação da Casinha na quinta tiveram um clima de família, contando com a presença do guitarrista americano Howl-N-Madd e de sua filha, a tecladista e vocalista Shy Perry. Quem acompanhou a apresentação teve uma prévia do que eles vão mostrar nos demais dias de festival — ela se apresenta nesta sexta, no palco Magnólia, enquanto ele é atração do sábado no palco principal. Além da dupla, o MDBF está cheio de boas pedidas musicais (locais e internacionais) até o sábado, isso sem contar as demais possibilidades presentes na Estação Férrea, que vão de uma volta na roda gigante a incursões virtuosas pelos workshops de música.
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