Leonardo Douglas de Jesus tem 12 anos é fã de MC Kevinho. Também aos 12, Vitória Waltrick Nunes não perde nada do grupo coreano BTS. Um ano mais jovem, Maria Eduarda Fleck adora Isadora Pompeo. Três vezes por semana, os adolescentes deixam funk, K-pop e gospel de lado para se tornarem batuqueiros em uma das oficinas da ONG Anjos Voluntários, em Caxias. Desenvolvidas pelo artista João Viegas como parte integrante do projeto Culturas In Movimento, as atividades focam no maracatu de baque virado para introduzir as 195 crianças e adolescentes, de seis a 16 anos, atendidos pela entidade às diferentes manifestações culturais brasileiras.
– É muito valioso poder conhecer e valorizar uma cultura que é tipicamente brasileira, é nossa – salienta Viegas, que há 11 anos pesquisa o maracatu e desde 2015 é regente do Maracatu Baque dos Bugres.
Ritmo de matriz afro-brasileira, o maracatu de baque virado nasceu em Pernambuco há aproximadamente três séculos, no período da escravidão, como forma de resistência negra. Consiste em um cortejo formado por uma corte real e uma ala de percussão, formada por instrumentos como alfaia, agbê, gonguê, ganzá (também conhecido por mineiro) e caixa. Além de tocar e dançar batidas e passos cadenciados, os participantes entoam letras que remetem às origens do povo negro, cujo canto é puxado pelo mestre e a resposta repetida por todos.
Nas oficinas da Anjos Voluntários, os alunos procuram fazer um rodízio pelos instrumentos cada vez que se encontram. Com o tempo, descobrem afinidades e aptidões muitas vezes adormecidas. Luiza Rita Bandeira, 14, encontrou no gonguê, cujo formato se assemelha a um sino de ferro com um cabo e do qual o som é extraído a partir de batidas com uma baquete, seu favorito.
– É muito bom aprender coisas diferentes – entusiasma-se a estudante, antes de acrescentar que aprendeu a tocar violão com o avô.
Mais do que simplesmente proporcionar aos jovens a possibilidade de aprender a respeito de uma nova cultura, o maracatu também contribui para os adolescentes trabalharem com questões como senso de equipe, coleguismo, respeito e concentração, acrescenta Viegas.
– Quando estou agitado, toco e me acalmo – exemplifica Carlos Henrique Rodrigues Lopes, 13.
O coordenador da entidade, Renato Augusto Vicenzi, também comemora, citando a empolgação da garotada toda vez que têm aula do projeto.
– É uma oportunidade de conhecerem algo com o qual não tinham contato – afirma.
No dia 19 de dezembro, o resultado do trabalho desenvolvido por Viegas desde julho será mostrado em uma apresentação na quadra de esportes da ONG.
Apoio
O projeto Culturas In Movimento é realizado por meio da Lei da Solidariedade do Governo do Estado do Rio Grande do Sul. Na Anjos Voluntário, as mante-nedoras são as empresas Randon e o Instituto Elisabetha Randon.
Atividades em Caxias
Com atividades até o dia 30, o Mês da Consciência Negra promovido pela Coordenadoria de Promoção de Igualdade Racial, vinculada à Secretaria de Segurança Pública e Proteção Social (SMSPPS) de Caxias, oferece três palestras nos próximos dias. As demais programações são direcionadas a entidades assistidas pelo poder municipal.
– Aproveitamos a data (Dia da Consciência Negra) para ir a escolas e outros locais para falar sobre temas como racismo e direitos e mostrar como procurar auxílio, procurar o Conselho da Comunidade Negra, que fica Casa da Cidadania, ligar para o Disque 100 – explica a titular da coordenadoria, Alessandra Pereira.
Programe-se
Hoje
:: 18h: cine debate e roda de conversa Falar para não trair; relatos do curso Uniafro/UFRGS, na Sala de cinema do Centro de Cultura Ordovás. Inscrições na Coordenadoria (terceiro andar do Centro Administrativo) ou pelo (54) 3218.6000.
Dia 29
:: 18h: palestra Clube gaúcho: espaço social e cultural do negro, no auditório da prefeitura.
Dia 30
:: 13h: palestra Saúde da População Negra no auditório da prefeitura. Inscrições na Coordenadoria ou pelo (54) 3218.6000.