Há uma bonita cena do filme Benzinho na qual Irene, uma mãe que está prestes a ver seu filho mais velho partir para Alemanha, flutua numa boia segurando nos braços esse mesmo filho, paralisado em seu colo em posição fetal. A imagem sugere um momento de calmaria em meio ao turbilhão de sentimentos que toma conta da protagonista (vivida de forma visceral pela atriz Karine Teles). Mas também poderia ser uma metáfora visual sobre o ventre materno. Aliás, todo o longa de Gustavo Pizzi - estreia desta quinta (11) na Sala de Cinema Ulysses Geremia, em Caxias - é povoado por espaços que parecem pedaços da protagonista, como fragmentos de um ventre onde habitam fragilidades, afeto e calor.
Premiado com quatro kikitos no último Festival de Cinema de Gramado (melhor atriz para Karine, melhor atriz coadjuvante para Adriana Esteves, melhor filme do júri popular e melhor filme do júri da crítica), Benzinho é daquelas obras que envolve mais pelo perfil das personagens do que propriamente pela história que conta. O roteiro parte do conflito gerado por um convite recebido pelo filho adolescente de Irene (Konstantinos Sarris) para ir jogar handebol fora do país. Atordoada pela necessidade de se desprender emocionalmente do primogênito, Irene também precisa lidar com outras dificuldades que povoam seu núcleo familiar. Enquanto isso, batalha por conquistas pessoais importantes, como a liberdade financeira e a conclusão tardia no Ensino Médio - esse, um dos momentos mais emocionantes do filme.
A casa onde Irene convive com o marido, a irmã despejada pelo ex, os quatro filhos e o sobrinho, é um personagem vivo de Benzinho. A cenografia sugere um empilhamento de objetos e uma certa desorganização estrutural. Há sempre algo a ser consertado, como o cano que estoura e alaga a cozinha, a rachadura que põe em risco uma parede e a porta frontal que emperra, obrigando os moradores a utilizarem uma janela para entrar e sair da casa. Essa criatividade de adaptação dos personagens frente aos problemas, aliás, é um dos aspectos mais originais do filme. Irene e os seus dificilmente agem de maneira comum ou esperada, usam escapes que amplificam suas características humanas. Outro bom exemplo disso é a maneira como Irene lida com a raiva e a tristeza depois de uma briga com o marido, numa espécie de surto envolvendo overdose de açúcar e rock em volume máximo.
Caso alguém tenha ficado em dúvida mesmo com o nome quase autoexplicativo, Benzinho é um filme sobre afeto, responsável por um olhar íntimo sobre a conjuntura familiar e sobre a maternidade. A personagem Irene traz consigo uma representação super bem-vinda da mulher comum e suas questões contemporâneas (a sororidade está presente, os desafios profissionais e domésticos também) e, desta forma, o longa impregna-se de verdade.
PROGRAME-SE
O quê: longa Benzinho, de Gustavo Pizzi.
Onde: Sala de Cinema Ulysses Geremia (Rua Luiz Antunes, 312), no Ordovás, em Caxias.
Quando: estreia nesta quinta e fica em cartaz até o dia 21, com sessões de quinta a domingo, sempre às 19h30min.
Quanto: R$ 10 e R$ 5 (estudantes, idosos e servidores municipais).
Duração: 95min.
Classificação: 12 anos.