– Quando fica escuro, é por que acabou a gasolina do sol?
Sempre atenta ao comportamento e ao discurso das crianças – há três décadas público e fonte do seu trabalho – a escritora Gloria Kirinus pinçou de uma declaração da neta Maria Luíza, de 4 anos, um exemplo de como a liberdade que os pequenos experimentam para oferecer significados às palavras ajuda a explicar o seu próprio fascínio pelo ofício. Peruana naturalizada brasileira, Gloria é uma das autoras convidadas para o programa Quanta História Nessa História, que o Programa Nacional de Incentivo à Leitura (Proler) traz à Feira do Livro de Caxias do Sul amanhã.
Moradora de Curitiba, Gloria é autora de mais de uma dezena de livros de literatura infanto-juvenil, tendo entre os mais conhecidos O Camelo e o Camelô (Paulus, 1997) e Os Números Primos e Seus Sobrinhos (Edelbra, 2016). Como oficineira, chamou a atenção do cartunista Ziraldo com o seu curso Lavra Palavra, em que aborda o uso da linguagem de forma lúdica a fim de estimular nas crianças o fascínio pela palavra, porta de entrada para o gosto pelos livros (o pai do Menino Maluquinho a convidou para falar sobre o projeto no seu programa ABZ do Ziraldo, da TV Brasil). Embora sua vinda a Caxias não seja para aplicar o curso em si, a escritora pretende abordar o mesmo universo.
– O fascínio da palavra é o começo de tudo. Antes de falarmos de literatura, tem de haver um afeto, no sentido de se sentir afetado pela palavra e afetar a palavra, e isso está muito patente na criança. Ela repete palavras, inventa, tem o prazer de brincar com elas. A criança cria um pacto com a palavra como se apenas ela soubesse o seu significado e tem o prazer de se exibir com ela. Procuro alertar adultos e professores quanto a esta consciência para as palavras que a criança têm e muitas vezes não é compreendida, nem valorizada – antecipa a escritora, que esteve na Feira caxiense em 2007.
Além da palestra/oficina, Gloria também participa do Passaporte da Leitura, projeto que chega à 14ª edição nesta Feira. Trata-se de um encontro entre autores e alunos da rede pública que ao longo do ano desenvolveram trabalhos a partir de algumas de duas obras. Para a peruana, eventos como a Feira do Livro permitem a trabalhadores da palavra e da imaginação uma possibilidade preciosa de atualização e troca:
– São oportunidades de encontros, de saber o que os colegas estão escrevendo. Somos pessoas que compartilhamos o encanto por algo que não é contável, não é como ouro. É palavra.
Além de Gloria Kirinus, o projeto Quanta História Nessa História terá palestras dos escritores Marilda Castanha (MG), Caio Riter (RS) e Anabella López (ARG).
O quê: palestra/oficina Quanta História Nessa História.
Quando: amanhã, das 8h às 10h (Glória Kirinus), 10h às 12h (Marilda Castanha), 13h30min às 15h30min (Caio Riter), 15h30min às 17h30min (Anabella López).
Onde: Galeria Gerd Bornheim (Feira do Livro de Caxias do Sul).
Quanto: entrada gratuita.