Ana Botafogo é, sem dúvida, a bailarina mais brilhante e conhecida do Brasil. Mas, depois de anos de carreira em cima dos palcos, ela agora é um nome forte à frente de negócios: é dona de uma academia de dança, assina uma linha de jeans e também tem uma linha de roupas de dança. Para falar sobre sua experiência em espetáculos e festivais, e também no mundo empreendedor, a primeira bailarina e diretora artística do balé do Theatro Municipal do Rio de Janeiro (onde atua há quatro décadas) estará nesta sexta-feira em Garibaldi para palestrar no 1º Congresso de Mulheres Empreendedoras da Serra Gaúcha. Ana também participa, neste sábado, da abertura do 26° Bento em Dança.
Conversamos com a artista para saber um pouco mais sobre sua carreira, planos e como ela avalia os investimentos para a cultura no Brasil. Confira trechos da entrevista por telefone:
Pioneiro: A senhora sempre foi uma bailarina respeitada. Sempre pensou que seria também uma empreendedora em algum momento?
Ana Botafogo: Sempre fui uma artista de palco, mas sabia que a passagem entre o palco e o empreender dentro da minha própria carreira seria inevitável. Então sempre pensei nisso e me dediquei ao meu aperfeiçoamento enquanto artista. Mas claro que me preparei para este outro momento, o dos negócios, e que estou vivendo agora.
Pela sua experiência à frente de alguns negócios, o que é preciso para ser um bom empreendedor?
A primeira característica com certeza é a determinação. Sempre fui muito determinada a vencer e a fazer o melhor em tudo. Disciplina e foco também são essenciais em qualquer profissão. Algo interessante é que a insatisfação com os resultados também é uma característica boa para quem busca o sucesso. Sabe aquela sensação de sempre achar que pode ir um pouco mais? Nunca acho que cheguei no resultado final.
O balé sempre teve espaço no Brasil - e jogou luz para muitos talentos. Como a senhora vê a dança no Brasil hoje? Há investimento para bons trabalhos e para boa formação?
O balé, no Brasil, tem boa formação e muitos talentos nessa área. Infelizmente não temos um mercado de trabalho tão amplo para professores da dança enquanto profissionais. Os investimentos para o balé, enquanto cultura brasileira, são bem tímidos. Isso faz parte, um pouco, do momento cultural e político que estamos vivendo.
Recentemente o Brasil perdeu um de seus maiores museus (o Museu Nacional no Rio de Janeiro) em um incêndio. Somos um país que não dá valor para a cultura?
Infelizmente somos um país que investe pouco em cultura. O descaso, não só da sociedade, mas também de toda política cultural brasileira, é muito grande. Ao longo da minha carreira eu sempre bati na tecla de que a sociedade deveria se envolver com a sua cultura e não apenas esperar do governo. É lamentável que estejamos perdendo nossa memória, mas não perdi as esperanças. Vamos lutar para que as próximas gerações tenham mais consciência.