— Perigoso é deixar que o medo roube nossos sonhos.
A fotógrafa caxiense Aline Fortuna fala com propriedade sobre medos e sonhos. Há cerca de 10 meses, ela decidiu largar a rotina do emprego e o conforto de casa para se aventurar numa jornada sem roteiro pré-estabelecido. Na bagagem, apenas itens indispensáveis, como roupas e documentos, uma câmera GoPro para registrar os momentos inesquecíveis ao lado de sua companheira de viagem, a biomédica Renata Rodrigues, e muito fôlego para desbravar cenários que parecem saltar de produções cinematográficas. Seja na imensidão do deserto do Saara, no emblemático Memorial do Holocausto de Berlim ou no histórico sítio arqueológico de Petra, as meninas mantêm viva a curiosidade típica dos viajantes.
— Todo nosso planejamento é feito na estrada, conforme o destino vai nos levando. Nunca sabemos onde vamos parar (risos). E não temos ideia de quanto tempo ainda vamos viajar. Enquanto estivermos felizes e for possível nos manter na viagem, vamos continuar — antecipa Renata, que nutria o desejo por novas aventuras desde que voltou do intercâmbio na Austrália, em 2015.
A lista de países visitados só aumenta: já são oito. A jornada começou por Espanha, Portugal e Alemanha, no Velho Continente, passou por Chipre, no Mediterrâneo, e alcançou as areias de Egito, Israel, e Jordânia. Atualmente, as gurias estão em Istambul, na Turquia, metrópole onde Oriente e Ocidente se mesclam entre as ruínas bizantinas, os famosos templos religiosos e os imponentes arranha-céus de Maslak, centro financeiro tipicamente contemporâneo.
— Todos os países por onde passamos deixaram algo muito especial, mas, se fosse para escolher o mais marcante, acho que seria o acampamento no deserto do Saara. É incrível! Em uma noite de lua cheia, nos afastamos do grupo, subimos em uma montanha e, lá no alto, só escutávamos nossa respiração. Não tinha nenhum barulho! Nossos corações se encheram de gratidão e choramos de felicidade — recorda Renata, entusiasmada.
Inspirando viajantes
Com uma câmera à disposição e passagens por cidades históricas e cenários naturais de perder o fôlego, não demorou para que as meninas começassem a divulgar imagens dos locais visitados e publicar dicas nas redes sociais. Intitulado Mundo sem Muros, o projeto engloba um canal no YouTube com atualizações semanais, um perfil no Instagram que já conta com mais de 9 mil seguidores, além de um blog com relatos detalhados da jornada. Conforme Aline, a ideia de produzir conteúdo audiovisual durante a viagem surgiu com o objetivo de incentivar outras pessoas a apostarem nos próprios sonhos:
– É muito gratificante poder inspirar as pessoas com nossas fotos e vídeos. Eu, como fotógrafa, venho produzindo material há alguns anos, colocando minhas imagens em portfólios e redes sociais, mas sempre quis fazer disso um projeto e fotografar mais. No Brasil, antes de iniciarmos a viagem, já tínhamos criado nosso blog e alguns posts sobre lugares que frequentávamos, com mapa, vídeo e algumas dicas.
Dificuldades
Mas nem tudo são flores no caminho da dupla. Além de alguns perrengues por apostar num modelo de viagem de baixo custo, como longas caminhadas, deslocamentos noturnos e hospedagens muitas vezes improvisadas, as mochileiras já enfrentaram situações incômodas e até constrangedoras – sobretudo na passagem pelo Oriente Médio:
– Você precisa ter jogo de cintura. A gente tentava se adaptar ao máximo aos padrões locais, para não desrespeitar a cultura. Ainda assim, aos olhos de muitos, somos como ET’s andando pelas ruas. Principalmente no Egito. Teve muito assédio verbal e insistência. Nada grave, mas desconfortável. No entanto, isso jamais faria que deixássemos de visitar o Egito novamente ou falasse para alguém deixar de ir. Também conhecemos pessoas maravilhosas, e cautela é necessária em todo lugar – alerta Aline.
Nas redes sociais, as gurias disponibilizaram textos e vídeos com informações preciosas para facilitar a vida dos mochileiros de primeira viagem e alertam sobre possíveis situações delicadas. Uma das dicas fundamentais é respeitar a cultura local e estar aberto às novas experiências. Além disso, é importante deixar a vergonha de lado e pedir ajuda sempre que necessário.
Aprendizado constante
Largar a rotina da cidade rumo ao desconhecido, sem planejamento prévio e tampouco dinheiro de sobra. Depois de percorrer oito países, trocando trabalho por alimentação e hospedagem, Aline e Renata não conseguem mensurar o aprendizado que a jornada já proporcionou. Para além de suvenires e belas imagens, viajar é entregar-se ao inesperado e transformar lugares em memórias afetivas.
– O maior aprendizado é acreditar mais em nós mesmas, na nossa força, de que somos capazes de fazer coisas que nunca imaginamos, fora da zona de conforto. E também de que, no fundo, somos todos iguais, no Brasil ou no outro lado do mundo, estamos todos em busca de algo, com os mesmo desafios, dores e alegrias – resume a biomédica.
Dicas para mochilar
Passagens: pesquise promoções em sites que comparam preços entre companhias aéreas.
Bagagem: seja econômico. Companhias aéreas costumam cobrar para despachar malas. Além disso, andar com apenas uma mochila facilita nos deslocamentos durante a viagem.
Transporte: utilize ônibus e trens. Além de proporcionar um contato mais próximo com a cultura local, sai mais barato do que táxi e uber. Procure pesquisar informações sobre as linhas antes mesmo da viagem. Se você se sentir seguro, também pode pegar caronas.
Hospedagem: busque locais alternativos, como pousadas e hostels. Também é válido vasculhar aplicativos de hospedagem solidária.
Alimentação: evite bares e restaurantes localizados em zonas turísticas, pois os preços costumam ser mais salgados. Uma boa dica é comprar comida no mercado.
Comportamento: respeite a cultura local e esteja aberto às novas experiências. Tente agir como um morador da cidade, e não apenas como turista.