A infância em Santa Tereza rendeu aprendizados que Fernando Bertolini guarda até hoje. Foi na pequena marcenaria onde o avô Claudino Bordignon fabricava barris para armazenar vinhos e cachaça que o garibaldense aprendeu a identificar as diferentes espécies de madeira que recolhia na beira de rios. Dessa forma, as férias escolares ganhavam contornos de aventura às margens do Rio Taquari. Hoje, aos 29 anos, Bertolini faz da paixão pela madeira sua profissão, e uma amostra de seu trabalho pode ser conferida a partir de sexta na Sala de Exposições do Centro de Cultura Ordovás, em Caxias do Sul.
Rastro - Coletânea de Objetos Resgatados reúne obras produzidas pelo designer a partir de materiais coletados na natureza ao longo dos anos. Utilizando técnicas como lapidação, entalhe e lixamento, Bertolini cria, sem qualquer aplicação de agentes químicos, painéis e esculturas que ressignificam o que antes era considerado sem valor. Ou lixo. A madeira mais utilizada é a grapia, mas variedades como cedro, pitangueira e jabuticabeira também servem de matéria-prima. No seu trabalho, Bertolini usa ainda pedras de diversos tipos.
— Sempre tento expor o lado mais bruto da madeira, a casca, e o lado mais polido, lapidado, para mostrar a transformação pela qual ela passou — exemplifica o designer.
Outro ponto para o qual ele chama a atenção diz respeito à coloração e aos veios internos da planta. Detalhes que dão pistas por meio das quais é possível deduzir, por exemplo, o quanto a planta ficou exposta a sol, água e fogo ao longo da vida, além da sua idade.
— O que quero dizer com meu trabalho é que a gente pode produzir qualquer coisa em madeira sem precisar cortar, desmatar. Tem muita coisa disponível que morreu naturalmente — salienta.
Ao todo, a mostra apresenta seis obras de portes distintos. Uma delas é composta por 23 fatias de grapia recortadas, que compõem um painel. Outra instalação mostra três nós de araucária, cujo formato se assemelha a corações humanos.
— A araucária é uma madeira muito dura, muito resistente e vermelha quando polida — explica o artista, ao comparar a planta ao órgão.
Mais do que simples objetos, Rastro não deixa de ser um pouco da memória afetiva de Bertolini.
Trajetória
Antes de se mudar para Florianópolis, onde desenvolve atualmente acessórios como brincos e colares fabricados a partir de madeiras exóticas, Bertolini trabalhou durante oito anos como designer de móveis em indústrias de Bento Gonçalves e Garibaldi.
PROGRAME-SE
:: O quê: exposição Rastros - Coletânea de Objetos Resgatados, de Fernando Bertolini.
:: Quando: abertura sexta-feira, às 19h. Visitação até 5 de agosto, de segunda a sexta-feira, das 9h às 22h, e sábados e domingos, das 16h às 22h.
:: Onde: Sala de Exposições do Centro de Cultura Ordovás (Rua Luiz Antunes, 312, bairro Panazzolo).
:: Quanto: entrada gratuita.
Visita guiada
No dia 2 de agosto, às 19h, o artista conduzirá uma visita guiada pela mostra. Inscrições gratuitas devem ser feitas até o dia 1º pelo e-mail uniartes@caxias.rs.gov.br.
Oficina de produção
Bertolini ministrará uma oficina de produção manual de acessórios em madeira no dia 4 de agosto, às 14h. Não é preciso ter experiência ou conhecimentos prévios para participar. Interessados devem se inscrever diretamente com o artista no e-mail contato.fbertolini@outlook.com até dia 2.