Talvez tenha sido aquela briga histórica com Millôr Fernandes ou ainda algum dos desentendimentos envolvendo as finanças d’O Pasquim, mas fato é que o nome de Tarso de Castro ainda é pouco lembrado quando se fala da publicação, uma das mais importantes na história da contracultura brasileira. Um documentário com lançamento previsto para esta semana, no entanto, se empenha em esmiuçar a importância do jornalista gaúcho (de Passo Fundo), seja como um dos fundadores d’O Pasquim seja como um combatente indomável e irreverente do jornalismo brasileiro. Em Caxias, o longa gaúcho A Vida Extra-Ordinária de Tarso de Castro ganha sessão única nesta quarta, na Sala de Cinema Ulysses Geremia, seguida por debate.
Dirigido por Leo Garcia e Zeca Brito, o filme reúne um grupo de 35 entrevistados – entre eles nomes como Caetano Veloso, Nelson Motta e Jaguar – que narram suas impressões sobre o jornalista que jamais passava despercebido em qualquer ambiente. Os depoimentos costuram um retrato fiel à personalidade marcante de Tarso, homem que circulava entre as cúpulas do poder e as esquinas mais decadentes. A vida profissional e pessoal do documentado acabam se misturando, já que o mesmo ambiente onde Tarso colhia informações sobre matérias era também onde ele arrumava centenas de namoradas e filmava entrevistas memoráveis, ou seja, o bar. Para combinar com a personalidade boêmia do personagem, aliás, o documentário assume uma linguagem coloquial interessante. Boa parte das entrevistas foram gravadas explorando justamente o cenário de bares e restaurantes, conduzidas num formato de conversa e sempre com pelo menos duas pessoas em cena, no maior clima “papo de botequim”.
Outra escolha estética interessante do filme dialoga com a paixão de Tarso por aparelhos telefônicos, citada em vários depoimentos do filme. Numa espécie de tributo à compulsiva mania do jornalista em estar sempre “pendurado” a um fio falando com alguém, quase todos os depoimentos individuais do longa são filmados enquanto as pessoas falam ao telefone, carregando aquele tom de confissão igual ao que o próprio Tarso sempre conseguia arrancar de suas fontes.
Os registros bem-humorados de amigos, colegas e ex-namoradas somam-se ainda a retratos mais íntimos, com a presença da mãe, Ada de Castro, e do único filho, o humorista e apresentador de televisão João Vicente de Castro – numa participação muito interessante ao lado de Roberto D’Avila. Transcendendo o recorte de personagem, o documentário pincela ainda memórias duras sobre um Brasil amarrado pela censura e até retratos quase surrealistas de uma época da televisão brasileira sem script e na qual consumia-se álcool e cigarros durante os programas.
Indicadíssimo a estudantes da área da Comunicação, o documentário revela legados de um estilo de jornalismo que, praticamente, não existe mais. Um jeito de trabalhar resumido por uma famosa caricatura que retrata Tarso batendo sua máquina de escrever enquanto mira uma bala de revólver em sua direção. Um jeito de trabalhar onde adjetivos como controverso, combativo e polêmico andavam de mãos dadas com a genialidade.
MAIS: A sessão em Caxias é viabilizada por Letícia Friedrich, caxiense radicada no Rio de Janeiro que é sócia da produtora e distribuidora Boulevard Filmes, responsável pelo filme.
Programe-se
:: O quê: sessão do documentário A Vida Extra-Ordinária de Tarso de Castro, seguida por debate com as jornalistas Siliane Vieira e Alessandra Rech e com o montador do filme, Jardel Hermes.
:: Quando: nesta quarta, às 19h30min.
:: Onde: Sala de Cinema Ulysses Geremia, no Centro de Cultura Ordovás (Rua Luiz Antunes, 312).
:: Quanto: R$ 10 e R$ 5 (estudantes e idosos).
:: Classificação: 14 anos.
:: Duração: 90 minutos.
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