O encontro que povoou de bombachas e vestidos os Pavilhões da Festa da Uva neste fim de semana reforçou o poder de mobilização da cultura tradicionalista em Caxias e no Estado. Mais de 10 mil pessoas passaram pelo Festival de Danças Tradicionais, cuja primeira edição foi considerada histórica justamente por reunir pela primeira vez num mesmo espaço manifestações de dança do estilo Fegadan e do estilo Enart. Essa união fez do festival o maior já realizado, com participação de quase 100 grupos.
— A cordialidade é o clima predominante, você vê no rosto das pessoas que elas estão alegres. Nosso intuito é fazer os participantes desses dois modos de dança (Enart e Fegadan) se assistirem, já que, até então, sempre participaram de eventos separados. Aqui eles podem se ver e se integrar — disse Manoelito Savaris, patrão do CTG Campo dos Bugres e idealizador do festival.
De fato, integração foi um das palavras de ordem nos dois dias de programação. Enquanto os grupos se apresentavam simultaneamente nos dois palcos montados — o palco Fegadan no Centro de Eventos e o palco Enart no estacionamento —, o público se reunia para assistir e incentivar com gritos, assobios e palmas. Alguns até mesmo ensaiavam passos da dança, como a pequena Nathalia Werner, três anos, que na tarde deste domingo dançava com o pai, Fabiano Selau Werner, 38, enquanto no palco apresentava-se o grupo de veteranos do CTG Imigrantes da Tradição.
A programação também reuniu muita gente de fora, passando por cidades como Santa Maria, Rio Grande, Ijuí, Santana do Livramento e até mesmo Chapecó (SC). Patrão do CTG Aldeia dos Anjos, que veio de Gravataí para participar do festival, Joelson da Silva festejou a oportunidade de visitar Caxias mais uma vez.
— O Rodeio Campo dos Bugres sempre foi muito reconhecido no Estado por ter bastante organização. Agora, é muito legal essa iniciativa de fortalecer a convivência entre os dois estilos de dança, afinal, aqui está todo mundo pela cultura gaúcha. A gente dança aqui e prestigia lá — comentou ele, referindo-se ao outro palco (Fegadan) enquanto acompanhava a apresentação mirim do CTG no palco Enart.
A ideia é que o Festival de Danças Tradicionais ocorra anualmente e conquiste lugar no coração do povo, até mesmo de quem nunca participou de CTG mas se identifica com a cultura gaúcha de alguma forma.
— O festival foi um pleno sucesso técnico e um espetáculo artístico-cultural. Tomara que a população entenda que isso (o festival) é para eles, é para a sociedade e para a comunidade. Queremos oferecer um entretenimento sadio, fortalecer a identidade regional e ser um indutor para o turismo — defendeu Manoelito Savaris.
A programação contou com apoio do Ministério da Cultura, via Lei Federal de Incentivo à Cultura.
Paixão que vai além da dor
Na apresentação da gurizada do CTG Aldeia dos Anjos, no sábado à tarde, o dançarino Bruno dos Santos Flores, 12 anos, deu uma uma das (tantas) amostras de paixão ao tradicionalismo da tarde. O menino, que mora em Cachoeirinha, machucou o pé jogando futebol dias antes da apresentação, por isso dançou sentindo bastante dor em função do atrito com a bota de gaúcho. Preocupado em dar o melhor de si no palco, só tirou o calçado para aliviar o incômodo depois que a apresentação acabou.
— Participo do CTG há nove anos e adoro. São muitas amizades que a gente faz, todo mundo sempre junto, é como uma família — contou o guri, que veio a Caxias acompanhado dos pais e da irmã, que dança na categoria juvenil, e viu seu grupo conquistar o 3º lugar na categoria mirim/Enart.
Em família também estava o mecânico Alexander Lizot, mais conhecido como Neco, 38, que veio a Caxias para acampar com a mulher, Adriana, 37, e com os filhos Vinicius, 11, e Leonardo, três. O quarteto é integrante do CTG Tio Carlo, de São Marcos, e estava contente com o clima de celebração nos Pavilhões da Festa da Uva. O grupo montou várias barracas na área coberta do estacionamento e trouxe até um trailer para preparar refeições e confraternizar.
— Toda semana estamos dentro do CTG, a gente vem para integrar as famílias e as amizades — justificou Neco, que compete com a mulher no estilo Fegadan.
Bem em frente ao acampamento do CTG de São Marcos, as amigas Manuella Moura, 14, e Amanda Gabriela Soares, 15, davam os últimos retoques na maquiagem antes de subir ao palco para concorrer pelo CTG Chama Nativa, de Esteio. As gurias cultivavam no cabelo os cachos feitos ainda na sexta-feira enquanto realizavam os últimos preparativos estéticos antes de colocarem seus vestidos. O grupo delas lotou dois ônibus para participar do encontro em Caxias.
Sobre a melhor parte de participar de um CTG, as duas respondem em coro:
— As amizades!
Primeiros lugares
:: Categoria adulta/danças Enart: Grupo de Folclore Chaleira Preta, de Ijuí.
:: Veterana/Enart: CTG Rincão da Carolina, de Santana do Livramento.
:: Mirim/Enart: CTG Guapos do Itapuí, de Campo Bom.
:: Mirim/Fegadan: CTG Laços da Amizade, de Caxias.
:: Juvenil/Enart: CTG Chama Nativa, de Esteio
:: Juvenil/Fegadan: CTG Os Carreteiros, de Caxias.
* Devido ao grande número de grupos se apresentando neste domingo, o resultado das categorias veterana e adulta Fegadan não havia sido divulgado até as 20h, pois ainda havia grupos se apresentando.
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