Uma das maneiras de encontrar respostas sobre o passado é se conectando com o que ele deixou para trás. Uma mesa, um trabalho, uma descoberta ou uma ideia ajudam a dimensionar a passagem de alguém por aqui. Resgatar, reunir e catalogar fragmentos como esses é parte da função de dois museus de Farroupilha.
Coordenados pelo historiador Vinícius Pigozzi, eles servem como espaço de memória de histórias que são parte da construção física e simbólica da cidade. O Museu Casal Moschetti retrata parte da vida da humanitária Lydia Moschetti e do marido, Luiz, através de um acervo doado pela italiana. O Casa de Pedra traz ao público um pouco do que eram os costumes e do modo de vida de uma Farroupilha que foi o berço da colonização italiana na Serra, em 1875.
O secretário de Habitação e Turismo, Francis Casali, explica que a ideia é melhorar a relação dos museus com a comunidade. Para isso, foi contratado um historiador e haverá a construção de espaços dentro dos museus, como uma sala de exposições temporárias que será inaugurada no Casa de Pedra ainda em 2018.
Casal Moschetti
Apesar de ser dedicado ao Casal Moschetti, o museu aberto desde 1970 existe para lembrar, principalmente, a vida da filantropa e humanista Lydia Moschetti. Italiana por nascimento, tinha um carinho especial por Farroupilha e, aos 84 anos, doou todo o acervo pessoal para que fosse eternizado em um memorial. Envolvida com as causas sociais, ajudou na criação do Instituto Santa Luzia, escola profissional para cegos, e na fundação do Banco de Olhos, construído em Porto Alegre e pioneiro no Brasil. Depois de idosa, vendeu a casa e o carro e reverteu o dinheiro para as instituições que auxiliava, passando a morar no próprio Banco de Olhos.
Logo na entrada do lugar, aparecem textos contando a história do casal e com quadros contendo fotos deles. O restante do museu é dividido como se fosse a própria casa de Lydia, com móveis feitos de ébano, pratarias, esculturas e porta-retratos. Uma das portas leva o visitante para um dos locais mais curiosos do museu: o quarto onde se encontra, sentada em uma cadeira, uma antiga boneca de Lydia, que guarda histórias e lendas urbanas:
— As pessoas falam que ela é amaldiçoada, que caminha sozinha. Mas na verdade ela foi conquistada pela Lydia como prêmio em um concurso de ópera. Mas a cidade gosta da lenda — conta Raquel.
Na parte superior do museu, um quarto com objetos que fizeram parte da história do casal: afrescos, xícaras, pratos e pequenos bibelôs. No centro, uma mesa com os livros escritos em vida pela humanista que também era artista: pintava, escrevia, dançava, cantava e atuava.
Raquel conta que há cinco anos o museu recebeu uma visita especial: a primeira criança que fez transplante de córneas no Estado, graças ao Banco de Olhos:
— Ela conheceu a Lydia aos dois anos. No ano seguinte, fez a cirurgia e passou a enxergar. Ela veio até nós acompanhada da mãe. Foi bem emocionante.
PROGRAME-SE:
O quê: Museu Casal Moschetti, em Farroupilha
Onde: Rua Rui Barbosa, 49.
Quando: de segunda a sexta, das 8h ás 17h.
Quanto: gratuito.
Casa de Pedra
Construída entre 1890 e 1896 pelos italianos Domênico Fin e Luigia Fin, a Casa de Pedra já é um repleta de histórias por si mesma. É possível observar na fachada pequenos aspectos ornamentais como a data do início da obra em destaque na parede e os detalhes de marcenaria nas esquadrias. Na época, Domênico realizava o serviço de tropeiro, comprando mercadorias dos agricultores da Serra e revendendo na região metropolitana. Assim, conseguiu reunir dinheiro suficiente para abrir o próprio comércio.
_ A casa era dividida em três patamares. O primeiro servia como dormitório da família e para a armazenagem de grãos, pois era quente e seco. A parte principal, do comércio, era dividida em um armazém e um bar. No porão ficavam os produtos que precisavam de frescor, como queijos, copas, salames e o vinho produzido pela família _ conta o historiador e responsável pelos museus, Vinícius Pigozzi.
Entre as relíquias do acervo, estão sofás antigos, telefones, rádios da década de 1940, retratos da família, ferramentas de trabalho colonial e de agricultura genérica, como plantadeiras, pás para grãos, descascadores e barris. Além disso, existe um rico acervo de artefatos de cozinha e religiosos. No meio disso tudo, um achado: duas escrituras de colonos italianos, um delas de 1884, e outra de 1897. A segunda, assinada a punho por Júlio de Castilhos.
— Todo o nosso acervo é composto por doações da comunidade. Temos acervo desde o início do século XX até mais ou menos 1980 — explica Vinícius.
PROGRAME-SE:
O quê: Museu Municipal Casa de Pedra, em Farroupilha.
Onde: Rua Domênico Fin, S/N.
Quando: de segunda a sexta, das 8h às 17h.
Quanto: gratuito.
MAIS
Para visitas durante o fim de semana ou em outros horários são possíveis mediante agendamento prévio, através do telefone (54) 3261-6997.