A principal atração programada para a noite, a lua, não apareceu. Mas a caminhada pelo interior de Nova Petrópolis, no último sábado, teve vaga-lumes, belas paisagens, construções históricas e até um jardim de rosas que, escondidas pela noite, ainda assim exalavam um perfume encantador.
— É uma caminhada de contemplação — definiu, ainda antes do início dos 13,8 quilômetros, um dos guias e organizadores do trekking, Daniel Jardim, do grupo Caminhantes da Terra, ligado à Associação Tchon Ji.
E foi mesmo. Percorrendo estradinhas de terra cercadas por mata, pinheiros, plátanos, vinhedos e plantações, os 28 caminhantes de sete cidades partiram por volta das 18h30min da localidade de Pinhal Alto, passaram por Nove Colônias, seguiram até o Hungerberg (Morro da Fome) e continuaram até Linha Imperial, onde chegaram por volta das 23h. No roteiro — a segunda das seis atividades do gênero dentro da programação do Verão no Jardim da Serra Gaúcha, que segue até março —, muitos olhares admirados à paisagem, e, claro, pausas para fotos.
Se nas duas primeiras horas de caminhada, ainda com sol, o encantamento entrava pelos olhos, quando caiu a noite e as lanternas se acenderam para iluminar o caminho outros sentidos foram despertados. Ao passar perto de uma lagoa, um afinado coro de sapos se fez ouvir ("Que tipo de sapo é?", perguntou alguém). Algumas centenas de metros adiante, eram os grilos que faziam serenata para os caminhantes. Na mata ao lado, vaga-lumes piscavam.
Por volta das 21h30min, já percorridos cerca de 10 quilômetros, o grupo chegou ao ponto alto do trajeto (literalmente, pois fica a 820 metros acima do nível do mar), o Hungerberg, cenário do belíssimo Jardim Mais Alto da Serra Gaúcha. Com a escuridão, não deu para apreciar toda a beleza da plantação de rosa mosqueta, mas a invasão do olfato compensava a pouca visibilidade. Valeu a pena, também, a possibilidade de apreciar, ao longe, as luzes de Caxias do Sul, Farroupilha e, mais perto, Nova Petrópolis.
O último sentido a ser despertado, ainda na parada do jardim, foi o paladar, com o lanche orgânico servido no salão do mirante. Bolos, cuca de uva, pães integrais e várias outras delícias (como o "mandioqueijo", uma espécie de patê vegano de mandioquinha e açafrão) ajudaram os caminhantes a recuperar as forças para a última etapa da noite: a descida do morro, até Linha Imperial. No final, a certeza de que valeu a pena — e a vontade de voltar a Nova Petrópolis para os próximos roteiros.
"É um vício, mas um vício bom"
A beleza do caminho compensa, mas 13,8 quilômetros não são pouco, principalmente para quem não é acostumado a caminhadas. Para evitar (ou diminuir) possíveis dores posteriores, antes da partida, em frente a um antigo salão de baile em Pinhal Alto, outro dos guias da caminhada, Thiago Haugg, comandou uma sessão de aquecimento e alongamento.
Considerado de nível médio, o roteiro incluiu várias subidas, que, se fizeram diminuir um pouco o ritmo para alguns, não diminuiram a animação. A blogueira de moda Elisandra Dreher, 25 anos, já havia participado da caminhada anterior, em meados de janeiro, com algumas amigas. No sábado passado, as companheiras não puderam ir, mas ela resolveu participar mesmo assim:
— Quero fazer todas — garantiu.
Uma das caminhantes mais animadas era a advogada Anili Schneider, 57 anos, de Sapiranga. Ela contou que faz caminhadas longas desde 2013, em diversos municípios, e não apenas eventualmente:
— Caminho quase todo final de semana. É um vício, mas um vício bom — disse.
Quem estreou nos roteiros de Nova Petrópolis foi a vendedora Liane Müller, 61 anos, de Novo Hamburgo. Estreou ali, bem entendido, pois ela também já faz trekking há cerca de três anos.
— E durante a semana, caminho na cidade mesmo — contou Liane, envergando a camiseta de um grupo de caminhantes de sua cidade, o Desbravando Novo Hamburgo.
Roteiros no roteiro
O roteiro percorrido no trekking cruzou com ao menos três roteiros turísticos locais: o Alemães do Sul, o Roteiros & Paisagens (Roteiro de Natureza Autoguiada) e o Roteiro Turístico Armazém Rosa Mosqueta.
Nem todos os pontos turísticos foram visitados, claro, mas foi possível ter ao menos uma palhinha, com paradas num antigo casarão em estilo enxaimel transformado em pousada, numa casa de pedra que já abrigou matadouro, armazém e salão de baile e na capela do Menino Jesus de Praga, junto ao jardim / mirante.
Como a intenção é ir além de uma simples caminhada, inserindo informações culturais, no trecho final, na descida do Morro da Fome, teve ainda parada em frente a um antigo cemitério, com explanação sobre a história da origem do nome Hungerberg e sobre a batalha entre militares e colonos acontecida ali durante a Revolução Federalista.
O guia Thiago Haugg explica que para cada caminhada é escolhido um trajeto diferente — o próximo, por exemplo vai passar pelo Monte Malakoff, de onde se tem uma ótima vista do Rio Caí.
Estrutura
As caminhadas que integram a programação de verão de Nova Petrópolis contam sempre com guias (pelo menos dois, um à frente e outro atrás do grupo), carro de apoio e lanche orgânico incluído no pacote. A organização é da Associação Tchon Ji, em parceria com a prefeitura.
As próximas caminhadas*
:: Dia 11/2, às 8h: trekking Malakoff e Pedras do Silêncio, com saída da Igreja Evangélica Luterana de Linha Brasil. 18km, nível fácil.
:: Dia 25/2, às 8h: trekking Sítio Grünes Paradise, com saída do Moinho Rasche. 12km, nível médio.
:: Dia 4/3, às 8h: trekking Trilha da Batinga, com saída do Moinho Rasche. 11km, nível médio/difícil.
:: Dia 17/3, às 16h: trekking Ninho das Águias, com saída do Moinho Rasche. 11km, nível médio.
* Inscrições a R$ 50 cada, pelo e-mail contato@tchonji.com.br ou pelo fone (54) 99109-5073.
Dose dupla
Além das caminhadas acima, nos dias 10 e 11 de março ocorre o 9º Desbravando Nova Petrópolis, com 31 quilômetros no sábado e 19 quilômetros no domingo. O nível é considerado difícil, e as inscrições custam R$ 115, com direito a almoço, lanche e janta de sábado, café e almoço de domingo e seguro.
Os inscritos até 20 de fevereiro ganharão camiseta. Informações: (54) 9.9612.3507, (54) 9.9680.2905 ou desbravandonp@gmail.com.