Num ano que se desenha difícil para a comunidade cultural, especialmente no que diz respeito à obtenção de incentivo público para a realização de projetos devido aos cortes do Financiarte, pelo menos uma boa notícia se desenha para o público e para a classe artística caxiense em 2018.
Espaços que surgiram ou se consolidaram na cidade nos últimos meses com a proposta de valorizar a arte e a cultura local comemoram a boa aceitação e mantêm a perspectiva de ser cada vez mais receptivos, sendo uma alternativa para conferir ou produzir exposições, shows, oficinas e cursos.
Na Rua Visconde de Pelotas, em uma casa antiga próximo ao INSS, um grupo de artistas e professores de arte faz acontecer o Coletivo Entre, espaço que abriga atelier, salas de aula e de exposições e logo deve ganhar uma biblioteca. Idealizado pela artista visual Sheila Xavier e inaugurado em outubro de 2016, o Entre tem como participantes fixos os artistas Fernando Costa e Jorge Valmini e a professora de arte Tânia Bettiol. Sheila explica que a proposta é juntar todas as formas de arte e cultura, sendo um espaço aberto a quem procura um espaço para se expressar:
– A gente gosta de salientar que a casa está aberta a qualquer linguagem artística e cultural. Sabemos que para os artistas está cada vez mais complicado encontrar espaço para mostrar o seu trabalho e dar o seu curso, então a gente cede o espaço e nisso ocorre muita troca de conhecimento e de humanidades, que talvez seja o mais importante, uma vez que o mundo já está muito individualista.
Em seu primeiro ano, o Entre realizou desde curso de videoarte até aulas de capoeira, além de sediar atividades relacionadas ao Movimento Negro e à Marcha Mundial das Mulheres. Receptivo também a quem é de fora, a prioridade, contudo, é priorizar os artistas caxienses. Neste início de ano, o espaço está com um curso de fabricação de máscaras carnavalescas em andamento.
– Acho que a coletividade é uma tendência, não só na arte. Não supre apenas uma carência de espaço, mas também ajuda a atrair pessoas que estão mais isoladas e normalmente não se envolveriam. Também ajuda financeiramente, já que os custos são rateados. Manter sozinho um atelier, por exemplo, é bastante caro – comenta Fernando Costa.
Um palco para a música autoral
Um bar que aposta em bandas de música autoral poderia parecer uma ótima iniciativa para as bandas, mas uma roubada para o dono do bar. Contudo, não tem sido assim que o dono do Attilio’s 86, Milton Lusa, enxerga o resultado da parceria firmada com os expoentes da cena independente da cidade, em especial o selo Honeybomb e a Associação Cultural Paralela.
Lusa, que deu ao bar o nome do avô e a idade com que ele faleceu, conta que o Attilio’s já surgiu com a proposta de abrigar bandas autorais, como uma sugestão do sobrinho Wood, membro da banda Disco. Em meados do ano passado, quando a Paralela esteve interditada para shows, o estabelecimento na Rua Vinte de Setembro, no Centro, surgiu como um palco alternativo e a união se tornou ainda mais forte. Além de shows locais, ao longo do último ano, o Attilio’s sediou festivais e recebeu bandas de Brasília, Rio de Janeiro e até um duo canadense.
– A gente ter se tornado um bar para as bandas autorais têm muito dessa parceria. Quando abri o bar eu cuidava mais da parte de gastronomia e tinha minha cunhada que fechava os shows, mas depois ela saiu e esse pessoal das bandas me ajudou muito. A gente percebe que grupos como a Grandfúria, a Zava, a Não Alimente os Animais, têm um público bastante fiel – comenta Lusa.
No La Cueva, mistura de ritmos e sabores
Quando o músico Daniel Balconi e a dançarina Elisabete Biasin tiveram a ideia de transformar a escola de cultura flamenca La Cueva num espaço para unir arte e gastronomia, a ideia foi oferecer uma alternativa às opções mais tradicionais de Caxias, cuja programação muitas vezes se torna engessada devido à demanda de público. Era junho de 2016. Mas foi no ano passado que a casa localizada na Rua Cremona, em São Pelegrino, passou a ser considerada um ponto de encontro de todas as culturas.
– A gente viu que poderia montar um espaço que, embora mantivesse as referências da cultura espanhola, principalmente na parte gastronomia, pudesse abrigar outras manifestações carentes de espaço na cidade. Passamos a oferecer noites de chorinho, de dança do ventre, de violão clássico, de jazz, de cultura senegalesa, e tem dado muito certo. Estamos abertos a receber qualquer tipo de manifestação – explica a proprietária.
Para 2018, além de manter a parceria com os artistas que já são considerados da casa, a intenção é servir de palco para novos projetos, preferencialmente na esfera menos comercial.
– O que a gente quis, com muita coragem, foi não partir para o comum. Não querer ser o lugar mais badalado, mas sim uma opção menor, mais discreta, mas que aposta justamente nessa possibilidade de reunir amigos e interagir com a arte como um diferencial – acrescenta Elisabete.
Sócios em prol da arte contemporânea
Espaço dedicado exclusivamente à arte contemporânea, a Galeria Cubo foi inaugurada em maio do ano passado, na Avenida Itália, em São Pelegrino. Sociedade entre o arquiteto Renato Sólio e a consultora de arte Claudete Matias, a dupla partiu da premissa de trazer à cidade algo novo, que representasse mais do que um espaço comercial, mas também um legado cultural para Caxias. Nas palavras de Claudete, algo capaz de abrir a cabeça para novas experiências artísticas, livres de preconceitos.
– A arte contemporânea é uma arte que faz pensar, que sai um pouco da questão estética e tem um conceito agregado. São obras que têm muito a ver coma identificação da pessoa, quando ela leva para a sua casa algo que tem a ver consigo. O que conta sobre quem mora em uma casa são as paredes. E a gente vem com essa proposta de desmitificar a arte contemporânea, que muitas vezes é tida como inacessível ou muito cara – define a consultora.
Com um corpo de 40 artistas representados, a Cubo também aposta em exposições individuais, como a da pintora austro-brasileira Maria Tomaselli, que ocorreu em outubro. Para 2018, a expectativa é de realizar pelo menos quatro mostras individuais.
– No catálogo que a galeria representa há artistas locais e de fora, mas, para as exposições, a gente procura fazer o caminho um pouco inverso, de sair um pouco do bairrismo e trazer um novo olhar, como foi o caso da Maria, que é uma artista de renome internacional – exemplifica Claudete.
No Centro, a galeria de arte virou bistrô
Um dos mais conhecidos artistas plásticos de Caxias do Sul, Fabio Balen transformou a galeria em que abriga seus quadros, na Rua Alfredo Chaves, num charmoso espaço gastronômico. Inaugurado em fevereiro do ano passado, o Balen Bistrô reúne obras e abriga exposições de artistas locais, além de ser ponto para sessões de lançamentos de livros e desfiles de moda. O mais recente foi realizado pela estilista caxiense Carolina Potrich, em outubro do ano passado.
— A proposta é juntar artes com gastronomia e oferecer uma opção de convívio descontraído num ambiente bastante cultural. Quem chega não precisa estar interessado em adquirir uma obra de arte. Pode apenas querer tomar uma cerveja ou um bom vinho com os amigos, num ambiente bastante cultural que vai tornar a experiência mais interessante — comenta Balen.
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