O Ministério Público de Caxias do Sul ajuizou nesta quinta-feira uma ação civil pública contra o município de Caxias do Sul para que seja cumprida a legislação que determina o percentual de recursos que deve ser destinado ao Financiamento da Arte e Cultura Caxiense (Financiarte). Conforme a promotora de Justiça Janaína De Carli dos Santos, a decisão foi tomada após duas reuniões com representantes do Executivo terminarem sem que houvesse um acordo para que a administração municipal revertesse a decisão de repassar valor menor do previsto na Lei 6.967, segundo a qual a verba para o incentivo a projetos culturais deve ser entre 1% e 2% da receita proveniente da arrecadação com o Imposto Sobre Serviços de Qualquer Natureza (ISSQN) e com o Imposto Predial e Territorial Urbano (IPTU).
— Encaminhamos ao Poder Judiciário, que vai analisar a ação. Semana passada nos reunimos com o Executivo para tentar uma solução, uma reversão da medida que foi adotada ou um acordo com o Ministério Público, mas não obtivemos êxito. O nosso entendimento é de que a legislação não está sendo cumprida — afirma Janaína.
De acordo com o processo eletrônico número 9008205-77.2017.8.21.0010, que pode ser acompanhado por meio do site do Tribunal de Justiça do Estado do Rio Grande do Sul, a ação será julgada pelo juiz Carlos Frederico Finger, da 2ª Vara Cível Especializada em Fazenda Pública.
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A polêmica teve início no dia 23 de novembro, quando foram anunciados os projetos contemplados pelo edital 2017 do Financiarte. Neste ano, foram disponibilizados R$ 600 mil, bem abaixo dos R$ 2 milhões dos três anos anteriores. Com isso, somente 18 projetos puderam ser contemplados entre os 184 inscritos, sendo que 69 haviam sido recomendados pelas Comissões de Avaliação, Seleção e Fiscalização (Casf).
De acordo com a resposta do secretário de Gestão e Finanças, José Alfredo Duarte Filho, a um pedido de informações do vereador Rafael Bueno, de janeiro a setembro foram arrecadados pelo município R$ 181.104.194,03, o que significaria pelo menos R$ 1,8 milhão ao Financiarte, se observado o índice de 1% dos impostos. Em entrevista ao Pioneiro no dia 29 de novembro, o secretário da Cultura, Joelmir da Silva Neto, disse ter recebido de Duarte Filho um memorando informando que seriam destinados R$ 600 mil para o fundo de financiamento cultural e que o restante da verba iria para outras áreas. Dias depois, o prefeito Daniel Guerra confirmou a informação, acrescentando que o restante da verba foi usada para a aquisição de medicamentos.
A lei que rege o Financiarte diz que o fundo "tem por finalidade prestar apoio financeiro a projetos que visem fomentar e estimular a produção artística e cultural no Município de Caxias do Sul".
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ENTENDA:
:: 23 de novembro: a prefeitura anuncia os projetos contemplados pelo Financiarte 2017. Dos 184 inscritos, apenas 18 foram contemplados. A verba, que nos últimos dois anos foi de R$ 2 milhões, encolheu para R$ 600 mil. Os trabalhos escolhidos representam o menor número desde a criação do edital de financiamento à cultura de Caxias do Sul, cuja primeira edição ocorreu em 2003, com 32 projetos.
:: 28 de novembro: a comunidade artística ocupa a Câmara Municipal para protestar contra o corte de verba do Financiarte. Artistas e produtores culturais denunciam descumprimento de lei que obriga a destinação mínima de 1% da arrecadação com impostos para o programa de incentivo cultural. No mesmo dia, uma representação contra o prefeito Daniel Guerra é entregue ao Ministério Público (MP).
:: 29 de novembro: em entrevista ao Pioneiro, o secretário da Cultura Joelmir da Silva Neto disse ter recebido do secretário de Gestão e Finanças, José Alfredo Duarte Filho, um memorando informando que seriam destinados R$ 600 mil para o fundo de financiamento cultural e que o restante da verba iria para outras áreas. Duarte Filho não quis se manifestar sobre o assunto.
:: 1º de dezembro: o Ministério Público instaura um inquérito civil público para esclarecer a questão.
:: 5 e 6 de dezembro: a promotora de Justiça Janaína De Carli dos Santos se reúne com representantes do Executivo para ouvir explicações.
:: 9 e 10 de dezembro: artistas e produtores realizam ato na Praça Dante Alighieri e no Largo da Estação para chamar a atenção sobre o tema.
:: 11 de dezembro: a promotora Janaína De Carli dos Santos ajuíza uma ação contra o município de Caxias do Sul na qual solicita o cumprimento da Lei 6.967.