Um desabafo. Assim a jornalista Daiana Garbin classifica o livro de estreia, Fazendo as Pazes com o Corpo, que ela autografa nesta sexta, às 19h, na Livraria Saraiva do Shopping Iguatemi Caxias.
— Achei que era só uma menina fútil que perseguia a magreza, mas não era. No ano passado, consultei uma psiquiatra e tive diagnóstico de transtorno alimentar. Milhões de mulheres estão aprisionadas nos seus corpos e não sabem que têm uma doença — afirma Daiana.
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Foi preciso mais de 20 anos para que ela conseguisse buscar ajuda para entender por que a imagem que ela via no espelho não era a mesma que os outros tinham a respeito dela. Não foi fácil dar o primeiro passo em busca da cura de um sofrimento que a acompanhava desde a infância.
— Desde muito cedo, sempre comia muito. Em família italiana tem que comer tudo o que está no prato. Sempre comi muito mais do que a minha fome. Com 12 anos já chorava que estava gorda. Hoje eu sei que com 12 anos comecei a desenvolver o transtorno.
Em busca do corpo que considerava ideal, começou a tomar remédios para emagrecer aos 14 anos. O auge do distúrbio foi aos 19 anos, quando chegou aos 57 quilos, 13 a menos do peso atual. E ainda queria perder mais 10, conta ela, natural de Farroupilha.
Dividido em duas partes, o livro traz um relato ao mesmo tempo sincero e impressionante da luta de Daiana contra um mal que, segundo pesquisas, afetam no Brasil cerca de 1% a 3% da população geral. Estudos também apontam que cerca de 50% das mulheres brasileiras têm um desconforto significativo com a própria aparência, manifestando comportamentos como falta de vontade de sair, não querer ser fotografada, não se sentir suficientemente bonita e considerar-se inadequada para frequentar espaços públicos.
— A sociedade está doente por magreza e beleza, pela cobrança por padrões, pela exposição do corpo nas redes. É como se o nosso corpo não estivesse mais dentro da gente. Nosso corpo virou uma fotografia que a gente manipula no Photoshop em busca de likes e comentários. Uma geração que está adoecendo por causa da aparência — reflete.
Embora a anorexia e a bulimia sejam as doenças mais lembradas quando se trata de transtornos alimentares, Daiana diz que a epidemia também pode ser medida pelo índice de remédios para inibir o apetite, antidepressivos e de diuréticos ingeridos, que no Brasil é muito grande.
— Temos que falar também em compulsão alimentar. 29% das pessoas obesas têm compulsão alimentar. A sociedade julga o gordo como guloso e preguiçoso, mas se esquece que ela está passando por uma doença. Temos que falar em prevenção da obesidade. Vivemos em uma sociedade gordofóbica, que faz o chamado body shame (vergonha do corpo), que significa fazer a pessoa se sentir constrangida por causa do peso.
Some-se a isso a proliferação de musas e musos fitness em aplicativos e redes sociais na internet.
— Dentro desse propósito fitness estão escondido vários comportamentos de transtorno alimentar. Não é normal pesar tudo o que você come, não comer nada fora da sua dieta, levar marmita para tudo que é lugar, fazer exercícios mesmo estando doente. Hábitos que são propagados como saúde, mas podem mostrar uma obsessão pelo corpo.
Assista à entrevista concedida por Daiana ao Pioneiro via Facebook Live:
"Nem tudo é real"
A segunda parte do livro é uma grande reportagem jornalística com entrevistas e dados que mostram como, com o passar do tempo, a relação das pessoas com o corpo e os alimentos deixou de ser prazerosa para se transformar em sofrimento. A dica, ensina Daiana, é encontrar um equilíbrio.
— Hoje não tenho alimentos proibidos na minha vida. Tomei remédios para emagrecer por quase 16 anos e perdi completamente minha conexão com prazer e saciedade. Aos poucos, com a ajuda de um psiquiatra, uma psicanalista e uma nutricionista, estou reeducando meu cérebro, que não sabe mais o que é fome, o que é ansiedade. Não é de uma hora pra outra que mudamos nossa relação com o corpo e a comida, mas a gente só cuida bem daquilo que a gente ama e precisamos amar nosso corpo.
Outra recompensa, conta a autora, é o retorno que tem recebido do público desde que pediu demissão da TV Globo, onde trabalhou como repórter, para se dedicar ao projeto, que nasceu com o canal do YouTube Eu Vejo.
— Recebo muitas mensagens de pessoas dizendo que se identificam com meu problema e que os vídeos e o livro as ajudaram. Uma das mais mais me tocou foi o relato de uma mulher que depois de muitos anos conseguiu ir à praia de biquíni com o filho novamente porque não tem mais vergonha do próprio corpo. A mulher se sente sempre pressionada a estar mais magra e mais bonita. Uma pressão que vem de dentro de casa e da sociedade. Precisamos parar com essa ilusão de comparar a nossa beleza natural com fotos produzidas, com quilos de maquiagem. Nem tudo que é mostrado na publicidade, na TV e nas revistas é real.
Programe-se
:: O quê: lançamento e sessão de autógrafos do livro Fazendo as Pazes com o Corpo, da jornalista Daiana Garbin.
:: Quando: sexta (8), às 19h.
:: Onde: Livraria Saraiva do Iguatemi Caxias (RSC-453, 2.780, Distrito Industrial).
:: Quanto: o livro estará à venda a R$ 34,90. A versão e-book custa R$ 21.