Enquanto Tadiane Tronca, que comandou a criação da Secretaria da Cultura, em 1997, adota um discurso mais generalista ao falar das ações pasta, nomes que a sucederam na gestão são categóricos ao afirmar que a lei do Financiarte não deixa dúvidas quanto ao valor que deve ser destinado ao apoio a projetos culturais.
– Lei é feita para ser cumprida – afirma José Clemente Pozenato, citando em sua fala o título de Capital Brasileira da Cultura, ostentado pela cidade em 2008.
A opinião do escritor é acompanhada pelos ex-secretários Antonio Feldmann e Rubia Frizzo, esta última mencionando a descentralização de recursos entre os pontos positivos do Financiarte.
– Não há uma escolha do gestor para onde vão os recursos e sim um mérito – reflete Rúbia.
Já João Tonus afirma que, independentemente de ser uma área prioritária, a cultura deve sempre existir.
Vida cultural
"Em primeiro lugar, o Financiarte é regulado por uma lei que estabelece, inclusive, o que deve ser destinado. A importância disso se manifesta na própria vida cultural da cidade. Caxias do Sul é a cidade do Rio Grande do Sul com maior número de atividades culturais. Agora se quiser deixar de ser uma cidade que já foi Capital da Cultura... Isso significa regredir. Lei é feita para ser cumprida, senão não precisaria de leis. O dia em que cultura deixar de ser prioritária, a educação e a saúde irão piorar."
José Clemente Pozenato, secretário da Cultura de Caxias de 2005 a 2006
Prioridades
"O Financiarte é o instrumento mais adequado que Caxias do Sul tem para auxiliar e fazer com que produtores e artistas possam ter um financiamento. Ele tem produzido bons resultados e é um procedimento que dinamiza a cultura. A cultura tem essa visão por parte de alguns de que pode ser subtraída. Quando acontece uma situação de finanças com mais dificuldade, é uma das primeiras ditas que não é essencial. Independentemente de prioridades, a luta do setor da cultura deve sempre existir. É uma questão de equilíbrio, e vai muito dos gestores. Investimento em cultura não é em determinada pessoa, mas em uma proposta de construir uma sociedade."
João Tonus, secretário da Cultura de Caxias de 2012 a 2014
Ganhos
"Antes de ser secretária, eu fui duas vezes presidente e membro do Conselho (Municipal de Política Cultural). Cultura é uma estratégia da cidadania. As conquistas da cultura são sempre coletivas, e o Financiarte democratiza os recursos na medida em que os distribui de forma bem descentralizada. Não há uma escolha do gestor para onde vai os recursos e sim um mérito. Quando um projeto vai para os bairros, ele ajuda a levar a cultura que de forma mais oficial a secretaria mesmo tem dificuldade. Estimula os artistas a trazerem bons projetos. Muito dificilmente um projeto de Financiarte é de uma pessoa sozinha. Ele envolve toda uma cadeia e é responsável por praticamente 3% do PIB. Cada real investido em cultura volta R$ 7 para a economia. É um investimento na economia mesmo e deveria (o Financiarte) ser cada vez mais ampliado. Acho bastante temerário desmobilizar um processo que vem de muitos anos. Talvez seja um pouco de desconhecimento de quem faz a gestão. Se tu desarticulas hoje, tu estás desarticulando os próximos dois anos porque há todo um processo desde a inscrição do projeto até a apresentação do resultado. Não se pode simplesmente decidir que não vai cumprir, senão teríamos todas as leis para alguém mudar ao bel prazer. A cultura az parte da Constituição brasileira, ela é prioritária."
Rubia Frizzo, secretária da Cultura de 2014 a 2016
Autoestima
"A lei é bem clara, e lei não se discute, tem que cumprir. E, se não cumpre, vêm as consequências. É legítimo haver pressão para outras áreas consideradas prioritárias, como saúde, educação e segurança, mas vejo que o gestor tem que defender a sua área junto com o meio e os atores daquela área. Se a comunidade não se movimentar e não se unir, vai perder conquistas históricas. Quando o Mansueto foi prefeito, imagina para a época colocar recursos para construir a Casa da Cultura quando tinha muitas outras demandas na cidade? Depois veio o Pepe e criou o Fundoprocultura, o (Centro de Cultura) Ordovás. Eu trabalhei na revitalização da Estação Férrea, teve uma continuidade, é um processo. Seria muito desastroso para a cidade se essas conquistas de recursos que foram sempre canalizados para cultura fossem perdidos. Em 2010 fizemos fizemos Plano Municipal da Cultura que dizia que 3% do orçamento do município era para a cultura. É preciso que o movimento cultural tome pé disso. Cultura é um elemento da transversalidade. Também é importante para a autoestima, para a inclusão social da pessoa como cidadã. Uma cidade que não investe na cultura jamais vai obter o seu desenvolvimento pleno, porque certamente vai impactar na autoestima da comunidade. O ambiente começa a sofrer no sentido de perder sua própria autoestima. Vejo com muita tristeza o que está acontecendo. É preciso proteger o ambiente cultural da tutela político-partidária e dos interesses eleitorais. Deve-se buscar os apoios políticos sim, mas se impõe a afirmação do seu caráter apartidário do fazer cultural."
Antonio Feldmann, secretário da Cultura de 2006 a 2012
Ação
O grupo da cultura segue mobilizado e neste terça estará na Câmara de Vereadores, às 8h.