Escrevo agora do aeroporto de Santiago, no Chile. Escrevo no bloco de notas do celular, porque não quis levar computador, a intenção era ficar próxima de quem estava aqui. Escrevo para contar que estive em um evento, organizado pela Feira Internacional do Livro de Santiago, o evento se chama Diálogos Latino-americanos. Escrevo para contar que todas as mesas eram compostas por mulheres. Todas. Convidadas e mediadoras. Escrevo para dizer que não se falou sobre escrita feminina, nem sobre vozes femininas, nem mesmo sobre autoria de mulheres, mas sobre como é escrever hoje na América Latina, sobre expressarmos nossas vontades e sobre quem somos hoje geograficamente, em toda nossa complexidade. Houve perguntas sobre a tal literatura feminina, mas a resposta veio desconstruída, por parte de todas. Interessava dialogar sobre outros campos. Escrevo para contar que enquanto me faziam perguntas sobre literatura, também me perguntavam sobre quem somos geograficamente. E quando nas minhas respostas despontava certo medo, uma angústia geográfica, percebi, com mais precisão, como estar vivendo o Brasil de hoje me afeta.
Opinião
Natalia Borges Polesso: Diálogos
Não falávamos por conformidade nem resignação, senti que compartilhávamos um cansaço e uma vontade
Natalia Borges Polesso
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