Richard Rasmussen é apresentador, economista, biólogo e naturalista. Com um profundo conhecimento sobre o meio ambiente e com uma imensa bagagem cultural, ele tem uma forma espontânea e bem específica de trazer à discussão particularidades do mundo animal com o objetivo principal, segundo ele, de aproximar o ser humano do seu lado selvagem esquecido. Carismático, Richard esteve em Caxias na última sexta-feira a pedido dos supermercados Andreazza, para uma ação de promoção das rações BawWaw, e conversou com o Pioneiro.
Na televisão desde 2005, hoje ele divide seu tempo entre viagens para produzir programas de TV, palestras e parcerias comerciais. Com a irreverência de alguém que mistura serpentes e cachorros em casa, o biólogo mais conhecido da televisão discorreu sobre sua trajetória, seus medos e sobre a vontade de desconstruir preconceitos acerca de animais conhecidos e desconhecidos, com o intuito de aproximar as pessoas daquilo que é mais inerente a elas: a natureza humana.
Confira a entrevista:
Pioneiro: Como você descobriu esta conexão tão forte com a natureza?
Rasmussen: Na verdade, nós todos temos isso, desde crianças. Nós só esquecemos disso quando crescemos, temos interesses diferentes, mas todas as crianças, você pode reparar, gostam de bicho. A gente já tem essa conexão, ela nasce conosco. Algumas crianças têm mais sorte, eu tive sorte, pois vivia em uma chácara no interior de São Paulo e os meus pais estimulavam muito essa questão. Eu tinha um avô que me levava para pescar desde criança, eu fui estimulado desde cedo. Isso foi fundamental.
Você tem contato com muitos animais diferentes. Qual foi a situação mais assustadora que você já viveu?
O medo é comum, eu tenho medo, como todo mundo. O medo é importante porque inicia um processo de defesa seu, como ser humano. Mas isso de ficar aterrorizado acontece porque não se conhece algo. Então, o fator do conhecimento é fundamental para quebrar esses paradigmas que existem. Eu tive, claro, situações um pouco mais “justas”, porque estar com um animal selvagem às vezes não sai exatamente como você imagina. E são animais selvagens, totalmente capacitados para aquele ambiente. Principalmente tubarões e crocodilos, são animais muito antigos... 300 milhões de anos de evolução. Um animal que viveu 300 milhões de anos sabe tudo, né? Já passei algumas situações assim com tubarões e crocodilos. Mas estou aqui, isso significa que, de uma forma ou de outra, deu tudo certo.
Em que momento você decidiu que a profissão de economista já não lhe completava mais?
Eu me formei muito jovem na escola, com 16 anos já estava indo para a universidade, e o meu pai não queria que eu fizesse Biologia, pois achava que como biólogo eu não poderia me realizar economicamente. Às vezes existe uma coisa de “vai ser aquilo que o seu pai quer”. Na época, eu não tinha forças para discutir. Então fiz Economia e depois fiz Biologia. Mas quando eu entrei para a faculdade já sabia que não era o que eu queria.
Na sua opinião, qual é o papel da educação para que as pessoas cresçam respeitando os animais?
Essa é uma questão mundial, porque a gente cria critérios próprios para a natureza. Para que serve, para que não serve? E então vai eliminando. O nosso grande problema hoje é a progressão geométrica e não aritmética de reprodução humana. A conta não fecha. Não adianta você fazer planos sociais de redução dos recursos naturais e reduzir 50%. Se você dobra a população, o lucro é zero. Então, a grande preocupação, e que ninguém leva tanto a série, é essa. Se você não tomar atitude em relação a isso você pode fazer qualquer coisa pelo planeta que não vai resolver. Claro, a diminuição dos recursos vai desacelerar a destruição não do planeta, mas do homem, mas não é apenas isso.
Cite algumas atitudes urgentes para salvar o meio ambiente.
A primeira seria um controle populacional. Só que o problema é que todas as políticas hoje estão na contramão disso. Ninguém vai se reeleger dizendo que quer controlar a população. Mas isso também pode criar problemas maiores, de quem poderia se reproduzir ou não. Então, talvez a solução fosse criar uma política pública “ao contrário”, em que quem não tem nenhum filho ganha bolsa integral, quem tem um filho ganha 70%, quem tem dois ganha 50%. Talvez fosse uma forma de resolver isso. A segunda coisa é o ser humano aprender a se relacionar com o nosso meio ambiente. A voltar a se relacionar com ele. Temos de reconhecer que estamos invadindo a área dos animais. Para mim, a melhor coisa que tem são os grandes centros urbanos, onde você concentra a população lá. Hoje, há rodovias que atravessam as florestas, etc., é ruim. A gente hoje consegue em todas as atividades econômicas colocar algo em equilíbrio, mesmo ainda sendo danosas em certo grau.
Qual é seu principal objetivo como biólogo/apresentador de tevê?
Entregar uma comunicação positiva, e não negativa. Tanto nos documentários quanto no jornalismo de TV só tem desgraça, só contamos histórias tristes. Eu quero contar histórias bonitas, dizer “olha, que lindo esse animal”, mostrar as coisas belas que ele pode fazer. Eu acho que essa é a minha função, despertar a curiosidade que está se perdendo. Porque as crianças hoje sabem de tudo mas ao mesmo tempo não sabem de quase nada. O conhecimento nunca foi tão democrático com a internet, mas ao mesmo tempo, na parte prática, é como se fosse um videogame, não tem mais relação com a natureza. E nós somos natureza, não tem como dissociar.
Se você fosse um bicho, sabe qual seria?
Eu adoro cavalos. As pessoas ficam decepcionadas quando eu falo que acho o animal mais bonito da natureza, quando está livre. Já tive a oportunidade de presenciar cavalos livres, e é um animal encantador. Mas acho que eu seria o homem mesmo. Nós somos o animal mais encantador que existe. Infelizmente, nós temos comportamento de vírus, nós destruímos o ambiente em que vivemos.
Qual foi o lugar mais estranho que você já visitou?
Foi a Etiópia, os vulcões da Etiópia. Eu fui em um vulcão chamado Erta Ale, e esse foi o lugar mais louco que eu já fui em toda a minha vida. Uma área inteira de lava e fogo, inacreditável. As pessoas, o meio ambiente, tudo muito diferente. Lá, você tem animais como o babuíno-gelada, o lobo da Etiópia, os animais mais ameaçados do planeta. Mas nem os bichos são tão diferentes, é mais o ambiente. Um ambiente feito quase como contra a vida.
Algumas pessoas e instituições criticam teu trabalho, acusando-o de ser muito invasivo (aos animais) em alguns casos. Como você lida com essas críticas? Costuma respondê-las?
Eu respondo como alguém que sabe o que diz. Eu tento argumentar e explicar o trabalho que nós fazemos, que hoje vai por toda a América Latina. Recebemos milhares de depoimentos de pessoas dizendo que mudaram seus conceitos sobre os animais, principalmente aqueles em que eu coloco a mão. Eu não coloco a mão em uma águia real, por exemplo, a menos que seja com um fim específico. Eu trabalho com animais que normalmente as pessoas pisam, matam ou passam em cima. É isso. Esses bichos temos um contato mais próximos e algumas pessoas gostam de criticar a apontar isso. Mas acredito que nós mais agradamos que desagradamos. E, geralmente, eu desagrado alguns biólogos que têm uma linha diferente e não têm diálogo. Deparo com algumas mentalidades ultrapassadas. Hoje a educação é um dos grandes pilares, e não adianta você fazer trabalho científico se ninguém vai ler. E eu hoje sou um veículo que leva informação científica para as pessoas que não são científicas. Eu não faço programa para biólogo, faço para as pessoas que não têm acesso à informação e que podem conhecer um planeta que talvez não teriam condições de conhecer. Além disso, eu faço tudo com muito coração, com vontade. Por trás disso, tem uma série de trabalhos que eu faço com instituições diversas, as mais importantes do país. Eu sou um cara que faz filme de fim de tarde e faz ao mesmo tempo um trabalho sério, voluntário e de dedicação. E claro, não estamos isentos, erramos porque somos seres humanos. Mas acho que a gente acerta mais que erra.
Na telinha
Richard Rasmussen estrela os programas Mundo Selvagem e Top 5, no National Geographic, e Sábado Animal, na Band.