Para lançar uma novela de época, o cenário também tinha que lembrar o passado. A Confeitaria Colombo, no centro do Rio de Janeiro, fundada há 123 anos, se iluminou na última terça-feira para receber a imprensa e a equipe da próxima novela das 18h, Tempo de Amar. Boa parte do elenco participou da festa, que reviveu a atmosfera de glamour dos anos 1920. No reflexo dos espelhos de cristal dos salões centenários, as expressões eram de alegria e expectativa.
– A gente quer contar histórias de amores. Amores que deram certo, amores que não deram certo, amores imprevistos, amores impossíveis, enfim, todos os amores – afirmou o autor, Alcides Nogueira.
O texto é baseado num argumento do escritor Rubem Fonseca e se passa entre os anos de 1927 e 1930 no Brasil e em Portugal. Parceira de Alcides, a autora Bia Corrêa do Lago, filha de Rubem Fonseca, contou que a história é uma ficção, mas foi inspirada na saga da sua bisavó:
– Ver o texto transformado nessas imagens incríveis é muito mais do que eu poderia imaginar.
Boa parte dessas "imagens incríveis" a que Bia se refere são aqui da Serra Gaúcha. No fim de julho, parte do elenco esteve em Bento Gonçalves e Garibaldi gravando cenas para a novela. Entre as locações, a Casa da Erva-Mate, a Cantina Strapazzon, a Maria Fumaça e a Villa Fitarelli, que no folhetim vão representar cenários de um vilarejo de Portugal, onde a história começa. O ator Jayme Matarazzo, que vai viver o vilão Fernão, resumiu a importância de ter gravado no Sul:
– A gente conseguiu roubar um pouco de toda a história que esse lugar tem, pra trazer um pouco pra nossa história. Foi muito importante levar a gente pra essa cápsula do tempo e acordar em 1927, pra dar vida a esses personagens. Ou seja, muito obrigada Rio Grande do Sul por nos receber tão bem e nos inspirar!
O diretor artístico da novela, Jayme Monjardim, que escolheu as locações, elogiou o povo gaúcho:
– Há muitos lugares preservados e por isso é sempre muito bom gravar no Rio Grande do Sul.
Monjardim define Tempo de Amar como "uma novela linda, romântica, um Romeu e Julieta dos anos 1920".
TRANSPONDO LIMITES
Esse amor que ultrapassa os limites do tempo e da distância vai ser protagonizado por dois atores estreantes na televisão brasileira. O carioca Bruno Cabrerizo, que morou 12 anos na Europa, e a gaúcha Vitória Strada. Eles vão viver os portugueses Maria Vitória e Inácio que se apaixonam, mas acabam sendo separados pelo destino.
– A Maria Vitória, a minha personagem, se apaixona pelo Inácio e eles insistem nesse amor que é muito verdadeiro. Só que ele vai para o Brasil, para trabalhar, sem saber que ela está grávida. Envergonhado, o pai a leva para um convento, a filha é tirada dela e então começa a luta pelo reencontro. São histórias muito bem entrelaçadas, muito intensas, que o público vai amar – diz Vitória.
Para a gaúcha, o convite para o papel principal de Tempo de Amar aos 20 anos, é um presente e uma grande responsabilidade. No cinema, participou de Real Beleza, de Jorge Furtado e do recém-lançado O Filme da Minha Vida, de Selton Mello.
O companheiro de cena, o carioca Bruno Cabrerizo também está ansioso pela estreia.
– Fiquei 12 anos fora do país, trabalhei na Itália como ator, depois fui a Portugal. Estar de volta, a convite do Jayme Monjardim e viver Inácio Ramos, um rapaz humilde, trabalhador e determinado tem sido incrível.
Ter um casal novo no centro da novela sempre foi a ideia de Monjardim. Mas no elenco estão também atores experientes como Regina Duarte, Bete Mendes, Débora Evelyn e Tony Ramos, que vai viver José Augusto, um fazendeiro português, pai de Maria Vitória.
– É uma surpresa a cada capítulo para mim mesmo, que sou um veterano ator, mas o que mais me encanta nele é justamente essa paixão pela filha, pelo trabalho dele, pelos vinhedos. Um homem forte, que toma decisões das quais vai se arrepender mais tarde – comenta Tony.
Estreia
A novela está prevista para estrear no dia 26 de setembro.
Figurinos
Maria Vitória será inspirada em Romeu e Julieta, com vestidos esvoaçantes. Ela usa sobreposição de rendas e luvinhas em contraste com bota e jaqueta de couro. O par romântico dela, Inácio, terá um estilo rústico, com barba, bigode e cabelo cacheado. Seu figurino terá cores de camisas mais escuras que não eram típicas da época.
Entrevista com Alcides Nogueira, autor da novela.
Como você define "Tempo de Amar"?
É uma novela de amor com muitas reviravoltas, um folhetim clássico que se passa entre 1927 e 1930, antes da Era Vargas. Gosto de dizer que não é uma história de amor, são muitas histórias de amor. Amores danosos, culpados, plenos, sofridos. O amor é o motor da trama.
Como foi para você ficcionar um argumento do escritor Rubem Fonseca?
Conheço e admiro a obra de Rubem Fonseca, que é incrível. Mas nunca antes tinha trabalhado adaptando algo dele. Foi muito interessante ficcionar uma história da família do escritor, até mesmo por ter como parceira no texto a sua filha Bia Corrêa do Lago. A história central é inspirada nesse texto.
As questões históricas do período serão retratadas de que forma na novela?
É muito bom ter contexto histórico como pano de fundo. Essa época é muito rica. Você tem artisticamente, em decorrência do Modernismo, a valorização da brasilidade. Além disso, há a discussão da posição da mulher e do negro. No período temos uma série de transformações profundas, vemos o final da República Velha, Getúlio Vargas que voltou para o sul e ficou lá conspirando, até que tomou o poder no Rio. E aí a coisa muda completamente, a Revolução de 30 é um divisor de águas. Esses acontecimentos vão aparecer na novela. Teremos um grêmio na trama coordenado por Vicente (Bruno Ferrari) e Edgar (Marcello Melo Jr) e ali há uma série de apresentações e discussões políticas, com a repressão que no Brasil sempre existiu. Vamos colocar também a queda da Bolsa de Valores em 1929, o que vai afetar profundamente os cafeicultores. Então, parte dos nossos personagens muito ricos vai entrar num outro período da vida, porque é a decadência mesmo.
A novela se passa no fim da década de 20. Nesse período as mulheres começaram a ganhar espaço. Como você vai retratar esse momento na novela?
É um período muito importante para a questão das mulheres, que deve ser discutida permanentemente. É exatamente nessa época que aparecem as primeiras sufragistas, porque as mulheres não podiam votar, não tinham direito algum. No Rio, nesse final da década de 20, a gente percebe que as mulheres começam a ocupar posições muito importantes mesmo. Na parte artística, em decorrência do Modernismo – que começou em São Paulo em 1922 – é incrível a influência de Tarsila do Amaral, de Anita Malfatti, uma série de mulheres interessantes. A poetisa carioca Gilka Machado lança em 1927 um livro chamado A mulher nua, onde ela coloca explicitamente a questão da sexualidade feminina, o que ainda hoje é discutido com pudor. Essa é uma pauta que precisa estar na novela sim, pois é sempre atual.