Atriz, roteirista de cinema, apresentadora, escritora, Bruna Lombardi acaba de lançar dois novos livros. Clímax é o seu primeiro volume de poemas inéditos em mais de 30 anos, e Poesia Reunida, que agrega os três volumes que publicou anteriormente. Clímax reúne poemas que alternam o ponto de vista do erotismo como uma experiência espiritual e da espiritualidade como uma experiência erótica. É o primeiro livro de poemas da autora desde O Perigo do Dragão (1984).
Em agosto, Bruna lançou um portal chamado a Rede Felicidade (redefelicidade.com.br), fórum sobre temas como arte e cultura, espiritualidade, saúde, viagens e vida natural. Além de reunir textos e vídeos de convidados, a Rede Felicidade também reúne um blog no qual escreve e responde a questionamentos dos leitores cadastrados.
Confira a entrevista concedida à Zero Hora.
Você passou os últimos anos dedicada ao cinema. O que a levou de volta à poesia?
Eu continuei escrevendo, mas estava um pouco parada na publicação. Achava que tinha de chegar o momento certo. Eu comecei uma página do Facebook e o retorno de público foi muito forte. Tem muita gente, muita interação. E nas próprias redes sociais eu comecei a receber muitas mensagens sobre a minha poesia. Gente que tinha o livro, gente que tinha o livro e emprestou e nunca devolveram, gente que perdeu. Muitos que abriam sites sobre a minha poesia. Eu descobri ali a irmandade secreta da poesia, pessoas que curtem, sabem teus versos de cor, recitam em saraus. Ou seja, todo um movimento do qual eu estava participando sem saber. Foi muito animador. Aí lancei o livro novo e o meu editor reeditou os três volumes anteriores num livro só, que se chama Poesia Reunida. Fiquei muito satisfeita com o resultado.
Ao reunir os poemas na antologia você teve vontade de retrabalhar, reescrever, reordenar o trabalho?
Não retrabalhei nenhum deles, deixei intactos, como eles eram. Achei que eu deveria respeitar o que eles são. Não tive vontade de mexer e transformar. Claro que você sempre pode mexer e transformar um texto, mas acho que esses poemas nasceram assim, são assim, gosto deles como são. Eles vieram com essa temática, essa mensagem, no seu momento, e eu achei que eles deveriam continuar o que são.
Mas remexer nesse material antigo provocou alguma surpresa?
Claro. Foi uma descoberta, tinha milhões de coisas que eu não me lembrava de que tinha escrito. Muito daquilo me pareceu inédito, porque fazia muito tempo que eu havia produzido aquilo.
Você vem se dedicando, em seus filmes em parceria com seu marido, Carlos Alberto Riccelli a montar um mosaico afetivo e pessoal de São Paulo, quase protagonista de seus filmes "O Signo da Cidade" e "Onde Está a Felicidade?". Que tipo de ligação você tem com o Sul?
Tenho uma ligação muito forte com Porto Alegre, porque para mim foi lá que tudo começou. Meu primeiro livro eu lancei na Feira do Livro em Porto Alegre e foi ali que eu conheci o Mario Quintana e muitos dos autores que escreviam naquele período. Eu virei uma espécie de mascote, porque eram escritores consagrados, como o próprio Quintana, o (Sérgio) Faraco, o Luis Fernando Verissimo, de quem sou fã absoluta, o editor Ivan Pinheiro Machado. E essa turma toda reunida, e eu uma garota, marinheira de primeira viagem, e muito bem recebida por eles.
Como tem visto a ascensão de um novo conservadorismo que advoga uma abordagem mais restrita inclusive da espiritualidade, além, claro da moral?
Eu acredito que todo o comportamento de censura, limitativo, que levanta qualquer tipo de bandeira dizendo "eu estou certo e vocês estão errados", totalitário e punitivo, parte de um princípio totalmente distorcido. Porque não é essa a maneira como o universo flui. Mas vivemos em um mundo de infinitas distorções, essa é apenas uma delas. E a história mostra que as distorções são cíclicas. Eu não acredito que isso seja uma causa, acredito que seja consequência. Acho que qualquer comportamento que restringe o "certo" a um tipo de visão e exclui os demais não lida com a diversidade, com a abrangência e a aceitação do outro, é obviamente um erro. Esse tipo de disseminação de ideias cria ódio, e ódio gera mais ódio. É um movimento que vai implantar mais terrorismo, mais reacionarismo, é uma espiral do mal.
Sim, mas como lidar com situações em que você já tem movimentos organizados que pretendem aplicar esse tipo de pensamento censório como política. A simples compreensão teórica não parece suficiente. Qual seria uma saída prática?
É difícil, porque você já está lidando em um território de distorção. É como pensar como você vai fazer trabalho preventivo quando seu corpo já está doente com medidas que você usaria como prevenção. O trabalho que fazemos, na verdade, é anterior a esses conflitos, é algo para que as pessoas se descubram, para que as mães eduquem seus filhos com valores legais, para que as pessoas tenham exemplos de boas escalas de valores, pensem em termos mais comunitários. Com esse tipo de atitude, você vai criar um grupo melhor. Mas se você já tem um movimento político que instala a censura, você já está vivendo um período de exceção. Então, a única mudança em que acredito passa por uma mudança de valores. É como quando você vê uma pessoa que vai a um terapeuta e já está cheio de transtornos, você precisa descobrir de onde aquilo vem. O que estamos vendo é uma grande consequência de muitas coisas que não foram cuidadas no devido tempo.
Obras
Clímax (Sextante, 256 páginas, R$ 34,90 impresso e R$ 21 em e-book) é uma reunião de poemas inéditos que transitam entre a sensualidade e a espiritualidade.
A coletânea Poesia Reunida (Sextante, 384 páginas, R$ 49,90 impresso e R$ 29,99 em e-book) compila seus três livros anteriores, No Ritmo Dessa Festa (1976), Gaia (1980) e O Perigo do Dragão (1984).