Laís Bodanzky tem festejado o fato de ser mulher. Na vida e na tela.
Na coletiva que concedeu em Gramado sobre o filme Como Nossos Pais, que teve a primeira exibição brasileira durante o festival, a diretora disse que é melhor ser mulher hoje do que há um ano, e que há um ano era melhor do que há dois anos. De certa forma, o longa que ela acaba de lançar converge a esse clima de celebração e contribui para manter a referida evolução da condição feminina na linha do contínuo.
– Qualquer filme, eu sempre estou na tela, é o meu ponto de vista, escolhi uma personagem feminina muito próxima do meu universo – comentou Laís, que escreveu o filme junto com o ex-marido, Luiz Bolognese.
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Como Nossos Pais acompanha a história de Rosa (Maria Ribeiro) e a série de conflitos que surgem enquanto ela tenta encarar todos os papéis desafiadores da "mulher moderna". O dever de educar as duas filhas pré-adolescentes cruza com a dificuldade em se relacionar com a própria mãe. No pacote das crises, acrescentam-se ainda casamento, profissão e até identidade. A protagonista, então, toma as rédeas da própria história para questionar conceitos impostos. No caminho, Rosa vai descobrindo a própria liberdade.
– Meu lance nesse filme foi realmente com as meninas, você poder dar a mão e dizer "vamos ser cúmplices", "vamos iluminar uma a outra" – disse a intérprete de Rosa, Maria Ribeiro.
Conhecida por suas posições contundentes, muitas delas à frente do programa Saia Justa (do qual fez parte entre 2013 e 2016), Maria é uma defensora ferrenha de sua personagem. E, assim, como boa parte da plateia feminina que viu o filme, também se identifica com ela.
– A gente é muito parecida nesse lugar de querer realmente dar conta de tudo e, ao mesmo tempo, saber que isso é impossível. Eu quero ser uma supermãe, eu quero ir ao dermatologista, fazer ginástica, eu quero comprar orgânico, eu tenho ambições profissionais. É meio difícil dar conta. E, às vezes, você vê que no grupo de pais da escola do teu filho só existem mães. Então, é uma coisa que a gente ainda tem que dar uma brigada. A gente não é contra os homens. O combinado foi de uma outra maneira até aqui. A gente está querendo mudar o combinado – disse Maria, no tapete vermelho, antes da exibição do longa no Palácio dos Festivais.
Paulo Vilhena vive o marido de Rosa, uma das figuras masculinas que fazem contrapontos importantes do filme.
– Quando o filme chegou para mim tive certeza de que era um tratado atual sobre o momento feminino, eu me questiono muito sobre como devo me comportar. Acho que é a hora de os homens ficarem quietinhos e deixarem isso tudo acontecer – disse ele, aplaudido na coletiva.
Como Nossos Pais, no entanto, não quer reforçar o embate de gêneros. Pelo contrário, mira nas crises de uma mulher para reforçar que ela tem direito de ser complexa. E isso nada tem a ver com TPM.
– A gente tinha preocupação de fazer um discurso que não fosse o da mulher contra o homem. Tem uma coisa que a Maria Rita Kehl fala que é sobre o casal sempre dividir o mesmo cobertor, um cobertor curto, que acabava cobrindo sempre mais o homem. Aos poucos, a mulher foi puxando mais e ficou confortável. Tem que achar o ponto de equilíbrio, tem que ficar gostoso para todos. Afinal, quem puxa é porque tem frio – comentou a diretora.
Veja os trailers de todos os longas em competição no Festival: