Não é exagero afirmar que a nudez sempre despertou interesse e controvérsia, seja na publicidade, no cinema, na televisão ou nas artes plásticas. Imoral para muitos, a imagem de corpos nus é matéria-prima para o trabalho do fotógrafo Gustavo Pozza, 35 anos, cuja exposição Anima abre hoje, no Campus 8 da Universidade de Caxias do Sul, integrando a programação da Semana de Fotografia do município.
– Como é uma coisa bastante comercial, as pessoas têm ideia de que a nudez é unidimensional, que só está ligada à exploração sexual, ao erotismo. A ideia que tenho a passar é de que há outras coisas para explorar – afirma Pozza.
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Ao apresentar os corpos femininos despidos, ele propõe uma reflexão para além da nudez por ela mesma, normalmente baseada em juízos estéticos a partir de padrões já estabelecidos. A ideia, salienta, é fazer com o que espectador construa "a alma" do personagem retratado, por meio de detalhes e expressões expostos nas fotografias. Daí o nome da exposição.
– Percebi, ao longo dos meus trabalhos, como elas (as pessoas) tinham percepções completamente diferentes, o que mostra o quanto do espectador tem na interpretação. A interpretação fala muito mais de quem está vendo do que da própria imagem – reflete.
Por isso a opção por não mostrar os rostos:
– Quando tu trabalhas com retrato, tu associas a interpretação a um personagem determinado que está ali sendo mostrado. Quando tu não tens o rosto, é mais uma possibilidade de preencher com uma interpretação.
Visto com naturalidade por alguns, o nu ainda causa choque e aversão em outros, seja ele explícito ou, como exemplifica o fotógrafo, em episódios "incabíveis" de protestos envolvendo mulheres amamentando em público.
– Noto que as pessoas têm ficado cada vez mais moralistas em relação ao nu. Não tem como ficar impassível em relação ao nu. De uns tempos pra cá, as pessoas têm ficado cada vez mais pudicas. Esperava-se que as pessoas ficassem cada vez mais liberais, mas é o retrato do tempo em que a gente vive. As pessoas agora estão se ofendendo até com obras feitas há centenas de anos.
Além da abertura da mostra, Pozza lançará hoje o livro Contemplando um soldado morto: ética e estética na fotografia, no qual aborda questões relacionadas à fotografia, mais especificamente com relação à representação do corpo. Uma de suas bases é a foto O Soldado Tombando, feita pelo húngaro Robert Capa (1913-1954) em 1936, na qual mostra um miliciano da guerra civil espanhola no momento em que recebe o tiro fatal, enquanto deixa cair seu fuzil.
A mostra é composta por 15 fotografias nas dimensões 20cm x 30cm produzidas em salt print, técnica desenvolvido por Henry Fox Talbot, em meados do século 19, e baseada na sensibilidade do cloreto de prata à luz, produzindo cópias em uma grande variedade de superfícies, o que expande as possibilidades a partir da escolha de diferentes papéis.
Programe-se
:: O quê: abertura da exposição fotográfica Anima, de Gustavo Pozza.
:: Quando: terça (15), às 19h40min. Visitação de 16 a 28/8, de segunda a sexta-feira, das 8h às 22h30min. Após a abertura da exposição haverá conversa com o artista e lançamento do livro Contemplando um soldado morto: ética e estética na fotografia.
:: Onde: hall inferior do Campus 8 da UCS (Avenida Frederico Segala, 3.099, bairro Samuara, Caxias do Sul).
:: Quanto: entrada franca.