O mundo cervejeiro expandiu na última década. Seja pelo número cada vez maior de marcas e variedades, seja pelo interesse dos consumidores no processo e na cultura da cerveja como um todo. Talvez por isso, a fabricação provoque curiosidade para se conhecer uma grande empresa do ramo. Ou ninguém tem o interesse de saber como é feita a cerveja que consome no churrasco do fim de semana, no happy hour ou após aquela semana estressante de trabalho?
As pequenas empresas do ramo e até as históricas, como a Bohemia, já estiveram na vanguarda para abrir suas portas e mostrar como trabalham. Só que agora é possível ir além e conhecer o mundo das grandes cervejarias. A Ambev abriu a fábrica de Jaguariúna, distante 120 quilômetros de São Paulo, para visitações do público. Além de conhecer o passo a passo, o visitante pode trocar experiências com os mestres cervejeiros.
– É muito motivador você abrir as portas da cervejaria. Em 34 anos de profissão, nunca tinha visto esse movimento. Você pode mostrar o seu trabalho e também que tomar cerveja é um negócio muito bacana – afirma o mestre cervejeiro Werner Flaig, 53 anos.
O passeio é um "copo cheio" para os apreciadores de uma das bebidas preferidas dos brasileiros e que a reportagem imergiu nesta semana. A trabalho, claro.
* O jornalista viajou a convite da Ambev
Como visitar
As visitas do público geral na fábrica de Jaguariúna começaram no dia 8 de julho. Por enquanto, somente a empresa do interior de São Paulo realiza este tipo de passeio. Este é um embrião que durará seis meses. Se houver uma procura interessante, a Ambev não descarta abrir as portas das demais indústrias da companhia.
Entretanto, a ideia surgiu muito antes. Há alguns anos, a empresa já havia aberto as portas para os familiares dos seus funcionários e sempre despertou interesse e movimentação para conhecer as dependências da fábrica. Após um período de estruturação e treinamento para visitações, o Beer Lovers foi criado e disponibilizado para os consumidores das marcas que a empresa produz e representa no país.
Acesse https://www.ambev.com.br/beer-lovers/ e faça a inscrição no site.
As visitas são realizadas aos sábados, em dois horários: às 10h ou às 14h30min.
A visitação é feita por turmas de até 20 pessoas e dura cerca de 2 horas.
A entrada é gratuita.
A ideia surgiu dentro de casa (pode derrubar, se não pode ficar junto do MAC de cima)
Curiosidades
A maior região produtora do malte usado pela Ambev é o Planalto-Médio, com uma das principais maltarias sediada em Passo Fundo.
A fábrica de Jaguariúna gasta em torno de 3 litros de água para fazer 1 litro de cerveja.
No dia 4 de agosto é comemorado o Dia Mundial da Cerveja.
Toda água utilizada no processo é captada do Rio Jaguari e, após o fim da sua vida útil, ela passa por uma estação de tratamento e é devolvida ao rio.
De mercado secreto para mais aberto
O mestre cervejeiro Werner Flaig tem propriedade para falar de cerveja. Há 34 anos ele trabalha na Ambev e vê um mercado cervejeiro em expansão. Na visão do paulista, a oferta agora começa a suprir a alta demanda pela bebida no Brasil.
– Antigamente, o cervejeiro fazia cerveja para ele, e o que sobrava era vendido. Hoje é diferente. O brasileiro, de uma forma em geral, se interessou pelo assunto. Todo mundo conhece mais a arte de beber uma cerveja, onde comprar cerveja e escolher tipos diferentes. Esse momento cervejeiro que o Brasil está passando, e que já deveria ter ocorrido antes, é muito positivo. Se você estiver numa roda de amigos ou até desconhecidos é um assunto que sempre entra em discussão. É gostoso falar de cerveja. Mudou de um mercado secreto para outro mais aberto – afirma Flaig.
Se para o consumidor esta variedade e maior quantidade de cervejas estão à disposição é bom, não é diferente para os mestres desta arte.
– É muito legal, porque você tem opções. Nisso entra a criatividade, o conhecimento e vários atributos que você aprendeu em todos esses anos. Isso incentiva a querer produzir mais, melhor e com mais variedades – observa o mestre.
Um tour sensorial
Logo na chegada à fábrica, a imagem que se tem antes de passar pelo portão são pilhas e mais pilhas de garrafas e engradados esperando para serem enchidos do grande motivo deste passeio: a cerveja. A primeira pausa acontece num prédio anexo à fábrica, onde funciona o administrativo. Já na porta, pode-se avistar algumas caixas com garrafas antigas de Bohemia, Brahma e Antarctica. Subimos dois lances de escada até o bar da Ambev, onde foram passadas as instruções para andar na fábrica e os vídeos institucionais da empresa. O que mais chama atenção é a história da bebida até sua chegada ao Brasil e a fundação da Bohemia, em 1853.
Devidamente equipados, saímos para o tour. Logo na saída, aparecem duas paredes pintadas com a linha do tempo da cerveja, aliada a anos importantes para empresa. Como o surgimento dela, a partir da fusão da Brahma com a Antarctica, em 1999. Ela termina com o acesso ao processo cervejeiro. A experiência sensitiva inicial é o acesso a quente sala da brassagem, com temperatura variando em 50º C. A parada, mesmo, foi na sala de controle com ar-condicionado. Ali foram apresentados o malte, os cereais (milho, arroz, trigo, aveia) e o lúpulo. Além de poder tocar nos ingredientes, também é possível experimentar o malte, que é um pouco adocicado.
Um vídeo explica como funciona o processo de brassagem e a função dos cinco tanques que estão à frente da sala. Deste processo surge o mosto. Eis a segunda experiência sensorial, provar um mosto de um novo lote de Brahma que estava sendo produzido. O cheiro predominante era de milho, cereal usado na receita das cervejas mais leves, e um gosto de chá verde gelado. Saindo da sala, descemos para o andar inferior onde prosseguiram as etapas de produção.
Antes de descer as escadas, no entanto, fizemos uma parada obrigatória. A fábrica de Jaguariúna foi construída pela Antarctica, em 1993. Desde então, dois pinguins estão postados em cada lado da escada. Quem não os tocar, será amaldiçoado e nunca mais beberá cervejas. Ao menos é o que se diz por lá. Por via das dúvidas, mantive a tradição.
A experiência maior do tour
No andar inferior, passamos pelos tanques de fermentação, onde a levedura é adicionada e formará o álcool e o gás carbônico. na sequência, estão os tanques de repouso e a filtragem para retirada de qualquer sólido do líquido. Está pronto o chopp e à espera de aprovação para ser engarrafado, pasteurizado e se tornar cerveja. Mas, para liberar o lote, fomos convidados a experimentar algo que sequer é comercializado: chopp de Skol, direto da torneira do último barril.
O tour segue para um pavilhão ao lado, onde estão as garrafas, mas não foi possível ver o processo de engarrafamento da cerveja. Antes de terminar o percurso, fizemos uma rápida passada na Estação de Tratamento Interno de água. Como a empresa a capta do Rio Jaguari, o que não utiliza dela é tratada e devolvida ao leito.
Ao final, voltamos ao bar para uma harmonização de cervejas com comidas diferentes. Aí também tivemos o famoso teste às cegas, envolvendo produtos diferentes, como a Brahma 0% até cervejas feitas com café, como a Caracu. A loja com produtos da Ambev também fica aberta para as turmas de visitantes.
Foram duas horas de imersão no mundo de uma grande cervejaria.