Foi durante um intercâmbio na Argentina, enquanto cursava Engenharia de Alimentos, que Júlio César Kunz percebeu que a engenharia não era para ele. Coincidentemente, foi na mesma viagem que descobriu a poesia de um outro Julio, o Cortázar. Mas as letras e a poesia já marcavam presença em sua vida, embora não se desse conta disso totalmente. Talvez elas tenham desembarcado ali quando resolveu escrever a história do avô paterno, lá pelos sete ou oito anos. Ou quando, aos nove, uma professora falou sobre rimas. Ou, ainda, quando – no início da faculdade – resolveu acrescentar aulas de latim e grego às matemáticas obrigatórias.
O momento exato não importa; o certo é que desde muito tempo o engenheiro em Alimentos e mestre em Negócios do Vinho coleciona cadernetas nas quais vai rabiscando versos, e na próxima quinta-feira autografa seu primeiro livro, Amor Fati (Quatrilho, 96págs., R$ 24,90), editado via Financiarte. O lançamento será na livraria Saraiva, no Shopping Iguatemi, em Caxias do Sul.
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Fã de Pablo Neruda e de Fernando Pessoa, de Vinícius de Moraes e da estética de Charles Bukowski, ele traz à luz poemas embalados geralmente por uma visão que tem muito a ver com outras duas áreas bem distantes da sua formação, filosofia e psicologia (embora ele também tenha iniciado, mas não concluído, um mestrado em Ética e Filosofia).
– Quando ia me formar na faculdade, os sócios do meu pai perguntaram o que eu queria de presente. Pedi a obra completa de Freud – conta, aos risos.
O próprio título do livro de Kunz é inspirado num conceito da filosofia de Nietzsche, na leitura feita por Irvin Yalom: o "amor fati" (amor ao destino) como um amar a vida integralmente e percebê-la como um ciclo infinito de experiências. Isso se replica na divisão da obra em quatro partes: Os nomes (re/des)velados, em que brinca de poetizar a partir de nomes e personagens; Os caminhos sem volta, em que a morte e as perdas são o tema; As muitas, com poemas que abordam experiências (eróticas, amorosas, de amizade); e Do eterno retorno, que retoma outra ideia nietzschiana, de que é preciso amar a vida e escolher viver cada momento como se ele fosse se repetir eternamente.
A escolha da poesia, para o escritor de 34 anos – que também escreve num portal de gastronomia e já lançou um livro técnico –, deu-se naturalmente. E ele justifica, citando a frase que ouviu de uma professora portuguesa numa oficina literária:
– Ela disse, “A gente fala poeticamente”, e isso me marcou. Porque a fala, e a própria vida, não são lineares como a prosa, e sim cheias de silêncios e interrupções. Como a poesia.
Literatura
Júlio César Kunz autografa quinta, em Caxias do Sul, o livro "Amor Fati"
Obra de poesia marca a estreia literária do escritor
Maristela Scheuer Deves
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