Uma região do Rio Grande do Sul ainda pouco conhecida dos apreciadores de vinhos quer se firmar no mapa da vitivinicultura brasileira tendo a Serra como referência de qualidade para a elaboração de seus rótulos. Estamos falando do Vale Central, onde há cerca de 25 anos sete vinícolas apostaram nas particularidades geográficas da região para investir no plantio de uvas e na produção de vinhos, espumantes e sucos de uvas em cidades como Santa Maria, São João do Polêsine, Silveira Martins e Itaara.
– Nos espelhamos muito na Serra, onde os enólogos buscaram conhecimento, trouxeram conceitos e estão produzindo vinhos de ótima qualidade – explica o sommelier e diretor comercial da vinícola Ópera Viva, Emerson Nereu, citando os enólogos Márcio Brandelli, da Almaúnica, e Adriano Miolo, do Miolo Wine Group.
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Situada no Recanto Maestro, um distrito cuja área se divide entre os municípios de São João do Polêsine e Restinga Seca, a cerca de 28 quilômetros de Santa Maria, a Ópera Viva teve o primeiro rótulo, um Chardonnay, lançado em 2008, como resultado de um projeto ambicioso do enólogo italiano Edi Kante. Proprietário de uma vinícola que leva o seu nome na região do Friuli, Kante percebeu no terroir do Recanto Maestro um grande potencial para o desenvolvimento de vinhedos e a produção de vinhos finos.
Com altitude aproximada de 300 metros, o Vale Central é uma região de clima mais quente do que a Serra, com seus 742 metros, o que implica em verões com dias quentes e noites amenas e invernos rigorosos, propiciando uma dormência plena das videiras.
– A temperatura mais elevada favorece o amadurecimento das uvas de maneira mais uniforme. Outro ponto positivo é que é possível fazer vinhos brancos mais longevos – analisa Emerson.Em contraste aos solos argilosos da Serra, os terrenos do Vale Central são predominantemente arenosos, facilitando a drenagem e o escoamento da água. Em razão disso, os vinhos apresentam notas minerais mais evidentes e uma acidez bastante equilibrada com a graduação alcoólica.
Além do Chardonnay, a vinícola tem em seu portfólio outros sete rótulos: quatro vinhos varietais (Sauvignon Blanc, Montepulciano, Merlot e Cabernet Franc) e três espumantes (Nature, Brut e Brut Rosé). As únicas variedades cultivadas fora do Recanto Maestro são a Merlot e a Cabernet Franc, provenientes de Flores da Cunha.
– A busca pela perfeição é um desejo nosso – resume o sommelier.
Além da Ópera Viva, outras seis vinícolas estão instaladas no Vale Central: Velho Amâncio, Dalla Corte e Quinta do Gama, em Santa Maria; Adega Torri, em Silveira Martins e Vinhos da Toka e Vinícola Teixeira, em Itaara.
Agende-se
Todos os sábados à tarde, a Ópera Viva promove atividades como visitas e cursos de degustação. R$ 35 por pessoa, com agendamento prévio pelo telefone (55) 99946-2828 ou pelo e-mail contato@operaviva.com.br. A vinícola fica no Condomínio Águas Claras, Estrada Recanto Maestro, 1.010, Recanto Maestro, São João do Polêsine.
De olho no potencial turístico
Atento ao potencial enoturístico do Vale Central, o empresário Paulo Geremia, da rede Di Paolo, inaugurou há dois anos uma unidade do restaurante no Recanto Maestro. Com funcionamento de segunda a segunda ao meio-dia e aos sábados à noite, o espaço segue o já consagrado padrão da rede e é uma opção de almoço para quem visita a região ou está de passagem, já que a rota é bastante utilizada para quem se dirige à fronteira com o Uruguai.
O cardápio é o mesmo das demais unidades, com rodízio de culinária italiana, pratos expresso e porções para duas pessoas. Uma dica: não deixe de provar o espumante Paulo Geremia, desenvolvido exclusivamente para a rede Di Paolo. Elaborado pela Ópera Viva com as uvas Chardonnay e Riesling Itálico, este brut passa por cinco anos de autólise na garrafa antes de ser comercializado.
A rede hoteleira conta atualmente com dois hotéis e uma pousada. O mais recente é o Hotel Business Center Beira-Rio, com 124 apartamentos.
O lugar
O Recanto Maestro é fruto de um projeto visionário de Antonio Meneghetti, filósofo, teólogo e artista italiano que teve entre suas principais realizações a criação da ontopsicologia. No distrito de Recanto Maestro, em Restinga Seca, Meneghetti, morto em 2013, criou uma fundação, um centro de arte e cultura, uma faculdade com cursos de graduação e pós-graduação e uma comunidade de admiradores. Com uma personalidade misteriosa e até mesmo controversa, despertava a curiosidade, tanto pelos cursos e palestras ministrados no seu "paraíso pessoal", na Quarta Colônia de Imigração Italiana do Rio Grande do Sul, quanto pelo passado na Itália.
No país europeu, Meneghetti deixou para trás acusações de embuste, usurpação de títulos, exercício irregular da medicina, associação para o crime e, inclusive, o envolvimento na misteriosa morte de uma paciente, de acordo com o jornal italiano La Repubblica, que ainda atribui parte da riqueza conquistada por ele a processos contra empresas jornalísticas.