Depois de 22 dias de peregrinação, Emilio Finger e Leidy Indicatti chegaram a Santiago de Compostela. Na bagagem, além dos 14 kg da mochila que os acompanhou durante toda a caminhada, a dupla traz experiências, ensinamentos e momentos inesquecíveis.
– A sensação é muito boa, mas, o mais importante foi, nesses 22 dias, nós estarmos no caminho. E estar no caminho representa a continuidade desde caminho: o que aprendemos, o que deixamos para trás, o que esperamos do amanhã, mas, principalmente, como vivemos hoje – disse o empresário de Caxias do Sul.
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MURAL: mande uma mensagem aos peregrinos!
Um pouco antes de chegar ao destino final, a dupla passou por alguns momentos emocionantes. Confira:
"A missa em Barbadelo foi mais um destes presentinhos do Caminho. Completamente intimista. Estávamos apenas em seis pessoas dentro da pequenina capela. O padre, por ser polonês, rezou a missa em sua língua. Emilo proclamou um trecho da bíblia em italiano e eu em espanhol. Recebemos a hóstia embebida em vinho juntamente com uma benção especial para peregrinos. Como é bacana perceber que um padre é um ser humano, igual a nós! A visão deste padre vestido de peregrino, com botas sujas de terra (como as nossas), uma mochila nas costas e uma pequena bata nos ombros ficará para sempre em nossa memória. Ele chama Johan e caminha junto com outro padre, Rafael.
Estão fazendo o Caminho e parando em todas as igrejinhas menores pedindo autorização para rezar a missa e abençoar os peregrinos. Ele disse que, quando não encontram nenhuma capela, rezam a missa nas montanhas ou à beira de riachos. Achei lindo isso! Afinal, a face de Deus está estampada na natureza.
Percebendo a beleza destas paisagens, conseguimos sentir a presença Dele. Após a missa pegamos um táxi até Palas Del Rei e iniciamos a caminhada. Emilio fez 9 km e eu 16 km. Perdi meus fones de ouvido (ando perdendo muita coisa ultimamente) e Emilio só dava risada dos meus insucessos. Quem sabe é o Caminho me dizendo para escutar os pássaros em vez das músicas do Spotfy..."
Pelas cidadezinhas do Caminho Francês até Santiago de Compostela, Emilio e Leidy conheceram muitas histórias e receberam alguns sinais. Confira:
"Conhecemos Sofie no albergue. Uma menina alemã que não estava nada feliz e de bem com a vida. Está andando de muletas por causa de uma tendinite no pé esquerdo e uma fratura no pé direito. Como ela está na etapa final, decidiu não se expor mais e pegar um táxi até Santiago. Não me surpreendeu o que aconteceu com ela depois que vi seu tênis (uma sapatilha na verdade, sem amortecimento algum) e depois que ela me contou que caminhou rápido demais e fez mais do que 30 km por dia. Quando você não se prepara, carrega peso demais, caminha mais do que seu corpo suporta e sem os equipamentos adequados, o Caminho dá um jeito de te parar. Ele te mostra que todos temos limites e precisamos respeitá-los por bem ou por mal.
Já vimos coisas horrendas por aqui. Bolhas horríveis, pés inchados que mais pareciam algum tipo de trombose, rostos sofridos pelas dores musculares ou tendões... Na etapa final, onde a alegria deveria prevalecer, vimos muita dor, cansaço e tristeza. Novamente, o Caminho reflete a vida. Se temos pressa, teremos pressa aqui. Se somos ansiosos, seremos ansiosos aqui. O Caminho não traz as respostas para as perguntas. Ele é nossa vida simplificada, é um meio de terapia, de auto conhecimento para que possamos nos escutar mais e nessa simplicidade toda encontrar mais perguntas do que respostas prontas que nos façam pensar de forma diferente do nosso dia a dia, de nossa vida cotidiana frenética. Hoje, os 9 km foram fáceis para o Emilio! Incrível como ele evoluiu fisicamente nesses vinte e poucos dias. Há algumas semanas ele teria parado para descansar a cada 40 minutos, hoje não. Caminhamos praticamente direto e ele não sentiu nenhum tipo de dor ou desconforto. Desconfio que no retorno ele vai sentir vontade de acordar cedo todas as manhãs para caminhar com suas duas bengalas."
Clique na imagem abaixo para conferir o diário de viagem completo e deixar uma mensagem para a dupla de peregrinos: