"Pois o vento nunca cansa de soprar, mastigando a morte lentamente, pelos campos daquele continente." Neste pequeno trecho, é visível a influência que a canção Tanta Cólera, da Grandfúria, traz da obra O Tempo e o Vento, de Erico Verissimo. A música integra o novo álbum da banda, O Sopro e o Momento, que será lançado amanhã, no Paiol.
O tom conceitual é o que torna ainda mais especial para o cenário do rock gaúcho o novo trabalho dos caxienses Maurício Pezzi, Diego Viecelli, Bruno Machado, Maurício Gomes, Vinícius de Lima e Tiago Perini. Através de instrumentos diversos, o estilo da Grandfúria passeia entre o acústico e o elétrico e traz influências que vão do rock alternativo à música nativa rio-grandense, além de traços do pop clássico.
Para o vocalista da banda, Vinícius de Lima, a criação de um disco conceitual é uma experiência totalmente nova:
– Normalmente, os discos conceituais são sobre algum tema da sociedade, corrupção, capitalismo, etc. O nosso fala sobre O Tempo e o Vento. Todas as músicas são interligadas. Há uma construção entre elas que conta uma história. Ao mesmo tempo, tentamos não nos prender ao tema. Usamos referências subjetivas, indiretas. Se tu leste os livros, vais saber, mas se não leste não ficas perdido na letra. É interessante, porque o livro fala da real construção do Rio Grande do Sul, através de metáforas e da construção dos personagens. E o nosso som busca trazer isso.
Com uma pegada mais nativista, o novo álbum traz, além das influências literárias, novos recortes tanto culturais quanto geográficos do Estado, configurando-se também como instrumento de afirmação da identidade dos integrantes. O Sopro e o Momento foi custeado via Financiarte e tem 11 canções que contam com o uso de instrumentos mais tradicionais da cultura gaúcha, como a gaita e o bumbo leguero.
Vinícius espera que o álbum traga reconhecimento, mas diz que a Grandfúria ainda tem muito a revelar.
– Não vamos estagnar nesse estilo. As nossas necessidades mudam, o nosso ambiente influencia quem nós somos e isso acaba refletindo na nossa arte. Porque a arte é um reflexo da nossa vida, então não vamos parar em uma só coisa. Estamos trazendo a possibilidade de traçar caminhos novos. Nosso novo trabalho mistura muito a música nativa com outros estilos, sempre com respeito pelas raízes. Muitas bandas importantes já se reinventaram e ainda estão se reinventando, essa abertura de mente é importante nos dias de hoje, em que é tão importante essa quebra de paradigmas. Então por que o som nativo não pode também criar algo novo? – diz.