Na tentativa de mostrar a influência da temperatura na consciência corporal de um povo, os artistas Daiane Hartmann, Kerber, Isadora Martins, Natália Colombo e Diego Santos apresentam-se neste domingo, em Caxias, com o espetáculo Gaudério, dirigido por Matheus Brusa, em que a dança contemporânea reverbera em estados, ritmos e arte contemporânea.
Através de apresentações com foco na chula, o espetáculo traz o discurso corporal de indivíduos imersos no frio, na tradição e nas particularidades da cultura gaúcha.
Contemplado com o Prêmio Funarte de Dança Klauss Vianna em 2014, a peça integra o repertório da Cia. Matheus Brusa, e já foi apresentada em cidades como Porto Alegre, Joinville, São Paulo, Belo Horizonte, Fortaleza e Salvador.
Segundo Matheus Brusa, a ideia do projeto nasceu através de uma inquietação:
– Comecei a pesquisa sobre a influência da temperatura no corpo e no comportamento das pessoas. Em 2010, resolvi focar mais em regiões frias, como o Sul. Aqui, a cultura é mais rígida, a música gaúcha não tem muito groove, até a nossa fala é mais seca. Para exemplificar isso, trazemos a chula. Essa é uma dança de pernas, do quadril para cima praticamente não exige movimentos, é rígida também. Simboliza bem o que queremos passar.
Além da dança, a peça traz elementos sonoros, como a gaita de Rafael De Boni e instrumentos ressignificados, construídos por Guilherme Rosset, além da trilha, criada por Lazaro Nascimento.
– Para essa peça, a gente produziu um pau de chuva de 2 metros de altura, por exemplo, para representar a abundância de chuva do Sul. Além disso, tem o cheiro do pinhão e o gosto do chimarrão que fazemos em cena, e usamos isso também como parte da trilha. Na música, trazemos um som gaúcho por trás. Tudo isso na tentativa de abraçar todos os sentidos, não apenas a visão – explica Brusa.
Os artistas, em momentos solos, também apresentam suas particularidades em cena. Um traz influências do hip hop, outra do balé clássico, alguns trabalham com movimentos pequenos e outros com passos alongados, desconstruindo e reconstruindo não apenas a chula, mas a própria cultura de cada um.
Brusa explica que o espetáculo também traz essa ressignificação:
– A melodia da chula é muito curta, muito simples. Para chegarmos a 40 minutos de espetáculo, desconstruímos bastante. Misturamos a chula com a milonga e trouxemos resquícios da cultura gaúcha na trilha. Assim, conseguimos nos conectar um pouco mais com a cultura da nossa terra. E tudo isso reflete na corporalidade do indivíduo, em suas qualidades de expressão.