Esta crônica é sobre o calor. Sobre o calor do café na xícara, não o que sentimos na boca ao sorver a bebida, mas o vapor na testa. O calor dos pés contra a areia da praia na lembrança de janeiro, dos lençóis que caem no meio da noite e, desajeitados, dormem ao lado da cama, no chão. É sobre o vidro que embaça por causa da panela de pinhão, da chapa do fogão a lenha ou ainda de um banho quente no fim do dia. É sobre o calor estanque da roupa na caixa, antes da doação, ou de uma estufa velha esquecida no fundo de uma dispensa, bem atrás das prateleiras. E, ao esticarmos os braços para alcançar o que o verão nos fez esquecer, rasgamos a pelezinha entre as unhas e os dedos, que nos paralisa numa soltura dolorida onde falta o calor.
Opinião
Natalia Borges Polesso: temperatura
"Esta crônica é também sobre afeto, sobre cuidados e sobre abrigo, sobre como curar feridas no frio é um longo processo."
Natalia Borges Polesso
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