A história narrada no filme Redemoinho, estreia desta quinta na Sala de Cinema Ulysses Geremia, se passa em uma noite, mas carrega o peso de uma vida inteira de escolhas (imposições?). Ao acompanhar o cair da noite na telona, o espectador vai conhecendo os fardos de cada um dos personagens em cena, que tornam o ar quase rarefeito. Os protagonistas imprimem dilemas de gente comum, mas o trabalho de interpretação dos gigantes Irandhir Santos, Júlio Andrade, Dira Paes e Cássia Kis Magro torna tudo mais grandioso. Na verdade, o quarteto é o verdadeiro redemoinho do longa, a força viva que puxa o espectador para dentro da história (baseada no livro Inferno Provisório – O Mundo Inimigo Vol. II, do escritor mineiro Luiz Ruffato).
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Na primeira cena do longa, a câmera cruza lentamente uma ponte sobre um rio. Logo, o espectador descobrirá que aquele lugar foi palco para um fato importante na trajetória dos protagonistas. E, aos poucos, também compreende-se uma possível figura de linguagem ali representada: a ponte é o elo entre os que ficaram e os que foram embora. Uma ligação mais trágica do que feliz. As angústias do passado ressurgem na pele do inquieto Gildo (Andrade), que após anos vivendo em São Paulo resolve voltar à pequena cidade mineira de Cataguases para passar o Natal com a mãe, Marta (Cassia). Lá, ele divide horas com o amigo de infância Luzimar (Santos), que vai se atrasar para a ceia ao lado da esposa, Toninha (Dira), sem dimensionar o quanto ela ansiava por sua chegada.
A dor pelo não feito/não dito parece ligar as histórias de cada um deles. Gildo volta à cidade assumindo o papel de um cara que venceu na vida – ganhou dinheiro, constituiu família, fugiu da prisão que a cidade natal representava. Em contato com Luzimar, tenta mostrar como fez boas escolhas, no entanto, acaba expondo fragilidades. O tempo ao lado do amigo da cidade grande também impacta em Luzimar, que vai se questionar sobre a própria rotina, entre o casamento e o emprego desgastante numa tecelagem. A princípio, o reencontro faz cada um querer ressaltar os aspectos positivos da vida, mas o vazio toma conta dos relatos aos poucos. Afinal, algum deles construiu algo importante até ali?
Enquanto isso, a força das personagens femininas corre pelas bordas da história. Dona Marta é a personificação da mãe de família submissa, mas Cássia Kis Magro consegue colocar muitas intenções nos silêncios da personagem. Já Toninha, protagoniza uma espera agoniada, engolindo violências como se fossem naturais.
Redemoinho é a primeira incursão de José Luiz Villamarin pelo cinema – a experiência maior dele é na televisão, onde dirigiu importantes trabalhos como as séries Amores Roubados e Justiça. A estreia é marcante, com escolhas estéticas cheias de sensibilidade. O diretor opta, muitas vezes, por uma câmera parada, apática como os próprios personagens perante o destino. O trem que cruza a cidade do filme também parece transmitir o mesmo recado, como se fosse a vida que passa por aquelas pessoas, sem que elas consigam embarcar.
Programe-se
:: O que: drama nacional Redemoinho, de José Luiz Villamarinz
:: Onde: Sala de Cinema Ulysses Geremia, no Ordovás (Luiz Antunes, 312)
:: Quando: estreia nesta quinta e fica em cartaz até 4 de junho, com sessões quintas e sextas, às 19h30min; e sábados domingos, às 20h
:: Quanto: R$ 10 e R$ 5 (estudantes, idosos e servidores municipais)
:: Duração: 100 minutos
:: Classificação: 14 anos
Veja o trailer