Sabe aquele momento de reviravolta na vida em que tudo parece desabar ao mesmo tempo? Essa é mais ou menos a situação pela qual passa a personagem Nathalie (vivida por Isabelle Huppert) no longa que abre a programação 2017 da Sala de Cinema Ulysses Geremia, nesta quinta. O drama francês O Que Está Por Vir é sobre achar o próprio caminho quando a trilha marcada no chão se apaga. E é também sobre solidão e maturidade, aquele combo pesado e conhecido da vida adulta.
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O longa, dirigido pela jovem Mia Hansen-Løve, abre com uma viagem em família de Nathalie com o marido e os filhos ainda pequenos. O ambiente é tranquilo e há entrosamento e carinho entre eles. O roteiro dá um pulo de pelo menos uma década para mostrar uma rotina um pouco mais conturbada. Nathalie é professora de Filosofia numa escola e vê seu posicionamento político questionado por alguns alunos. Além disso, ela tem de lidar com a dependência da mãe, com algum distanciamento do marido e com a saída dos filhos de casa. Mesmo assim, tudo parece estar caminhando de forma normal na vida da protagonista.
Depois desse breve panorama sobre Nathalie, os maiores pilares da vida dela começam a ruir. A partir daí, a personagem se aproxima de um antigo aluno, mergulha cada vez mais na paixão pelos livros (em cada cena, ela exibe um autor diferente) e passa por uma jornada de autoconhecimento que só as perdas proporcionam. No meio disso tudo, a personagem parece se desarmar de uma certa aura de frieza. A situação de desamparo vivida por Nathalie a aproxima naturalmente do espectador. Um exemplo dessa mudança está na relação que surge entre ela e uma gata. Ambas estão sós e arredias, e acabam encontrando aconchego uma na outra.
Em O Que Está Por Vir a diretora escolhe o caminho do naturalismo para contar uma história até bem comum. As sequências carregam sempre o clima das locações, seja o ruído urbano das ruas de Paris ou o silêncio do campo, praticamente sem uso de trilha. Até mesmo os momentos mais dramáticos, são explorados com a naturalidade do dia a dia – um exemplo é uma bela cena em que Nathalie chora ao lado de desconhecidos num lugar público, daquelas coisas que todo mundo já fez ao menos uma vez na vida, ou ainda vai fazer. O filme, no entanto, não se aprofunda na dor da protagonista, e sim nas tentativas dela para se recompor.
A produção permanece em cartaz até o dia 16, com sessões às 19h30min (quinta e sexta) e 20h (sábado e domingo). Ingressos custam R$ 10 e R$ 5 (estudantes e idosos).