O roçar fino entre o polegar e o indicador, a linguagem e um jeito inequívoco de se saber mortal. Isso, que agora são só palavras, é o que nos distancia da barbárie. Impossível pensar na nossa história, na nossa civilização, e deixar de lado essas características. O escritor argentino Jorge Luis Borges dizia que "ser mortal é insignificante; exceto o homem, todas as criaturas o são, pois ignoram a morte".
Para lidar com o efêmero, criamos. Desde pinturas, artesanatos, prédios, navios, até energia, calor, carinho. Os dedos em riste, prontos para tangenciar uma nova revolução. Podemos observar, nas fotos do Clube do Fotógrafo de Caxias do Sul, mãos que constroem o nosso presente. Mãos que brincam e trabalham. Mãos que afagam e celebram. Dedos nodosos, mãos calejadas. Que carregam, antes de tudo, histórias.
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Às vezes não nos damos conta, mas elas estão por aí, sempre presentes em nossas vidas. Seja descascando uma bergamota no sol; enchendo um tanque de combustível; mexendo, ininterruptamente, na panela de ferro; esmerilhando um sonho; ou mesmo pousando sobre nosso ombro e, sem nenhuma palavra, dizendo o que precisamos ouvir. As mãos movem montanhas. Num belíssimo poema, Drummond diz "tenho apenas duas mãos, e o sentimento do mundo". Se pararmos e olharmos agora para nossas mãos: que passado está ali escondido? Quantas construções já erguemos? Quanto carinho já proporcionamos? O que elas estão a dizer? E então também é nosso esse sentimento do mundo.
Se pensarmos no trabalho, por exemplo, as mãos têm uma ligação direta em tudo aquilo que nos rodeia. Tijolo sobre tijolo, prego entre madeiras, tinta sobre papel. Tudo, desde o arado à escrita, é uma extensão das nossas mãos.
Quem dera pudéssemos, sempre, tocar e sentir o toque daqueles que nos são caros. Por isso, inventamos. Colocamos, como se diz, a mão na massa. Deixamos o nosso legado, mesmo que pareça imperceptível, nas pequenas e grandes tarefas do cotidiano.
Com isso, nos perpetuamos na história. Vencemos não só a morte, mas o tempo. Construímos significados para nossas vidas. Sentimos, na ponta dos dedos, os destinos que traçamos. E, se não somos imortais como os animais, que desconhecem a morte, criamos obras que podem perdurar no tempo e, com elas, também se manterá firme os nossos nomes; o nosso toque. Com a linguagem, pudemos imaginar um mundo possível. Com as mãos, podemos construí-lo.
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