Não é fácil ser Leandra. E também nunca foi fácil ser Maya Falks – ou melhor, Márcia Falkenbach. Talvez por isso Histórias de Minha Morte (Quatrilho, 208págs., R$ 30), um dos dois livros que Maya autografa neste sábado, em Caxias do Sul, soe tão verdadeiro, visceral até. No seu segundo romance, editado via Financiarte, a escritora e publicitária caxiense aborda o tema do racismo pela perspectiva de uma vítima desse crime, que relembra suas dores enquanto contempla o próprio corpo morto no chão da cozinha.
Embora à primeira vista possa soar estranho uma mulher branca escrevendo sobre sobre o tema – afinal, por mais empatia que se tenha, nunca é o mesmo que ter sentido o racismo na pele –, Maya conseguiu criar uma personagem convincente. A explicação é que, à revelia da cor da pele e de se tratar de ficção, Leandra tem muito de sua criadora, de suas vivências reais. Enquanto ainda era apenas Márcia (o nome artístico foi adotado há pouco menos de dez anos), na época do colégio, Maya sofreu um outro tipo de discriminação:
– Eu sofria bullying na escola por ser gordinha. Sei que o racismo é muito mais grave, é uma questão social; eu não corro o risco de ser morta por ser gorda, e mulheres negras sao mortas todos os dias. Mas levei um pouco das minhas vivências, das minhas dores, para o livro – diz a autora.
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A afinidade com o tema também se explica pelas várias amizades com pessoas que passaram por situações como as descritas na trama. Ainda na infância, na mesma época em que era vítima de brincadeiras maldosas, sua melhor amiga era uma coleguinha negra.
– Eu achava que ela era minha amiga por ter pena de mim. Só mais tarde compreendi que ela também sofria preconceito – conta Maya.
Assim, diz, apesar de o livro ter sido escrito praticamente de uma só vez, em apenas dez dias, o processo de construção da personagem foi algo que amadurecido praticamente toda a sua vida – o que não significa que ele seja autobiográfico. Ainda antes da escrita, ela coletou, via Facebook, depoimentos de várias mulheres do Brasil todo que ajudaram a dar mais consistência à obra. Outra característica interessante de Histórias de Minha Morte é que, mesmo abordando temas pesados, como racismo, desigualdade social, saúde mental e violência sexual, o texto flui, graças ao toque irônico da autora.
Quem for à sessão de autógrafos poderá conhecer ainda uma outra faceta de Maya: a de poeta. Isso porque, concomitantemente ao romance, será lançado o volume de poesias Versos e Outras Insanidades (Macabéa Edições, 140págs., R$ 33 – no sábado, será vendido a R$ 20), com poemas de temática feminista.
Paralelamente aos lançamentos, ocorrerá uma exposição de fotos e outra de ilustrações que têm Histórias... como tema, assinadas, respectivamente, por Ângela Nadin e Bruna Nora.
Agende-se
O que: lançamento dos livros Histórias de Minha Morte e Versos e Outras Insanidades, de Maya Falks
Quando: neste sábado, a partir das 17h
Onde: no Zarabatana Café, no Centro de Cultura Ordovás (Rua Luiz Antunes, 312), em Caxias do Sul
Literatura
Livros "Histórias de Minha Morte" e "Versos e Outras Insanidades" têm sessão de autógrafos neste sábado
No romance, escritora caxiense Maya Falks aborda a questão do racismo
Maristela Scheuer Deves
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