– Sempre quis fazer o Bailei na Curva 2, mas hoje vejo que não posso, porque o primeiro ainda não terminou.
Assim Júlio Conte, autor e diretor da peça mais icônica do teatro gaúcho, começa a responder sobre como o cenário político atual dialoga com a do Brasil que em 1964 atravessava um golpe militar disfarçado de revolução. Um período de adultos dispersos demais para captar uma realidade que apenas se insinuava, e da infância que, na sua sabedoria, detectava as mudanças que transformariam a história do país. São sete crianças, vizinhas da mesma rua, que narram a história do Bailei na Curva, espetáculo que nesta sexta chega ao Teatro Pedro Parenti, em Caxias do Sul.
_ Na temporada de verão que fizemos no Theatro São Pedro, tive a impressão de que a peça tinha voltado ao seu início. Pessoas vivendo suas vidas normalmente, sem se dar conta da convulsão social que a qualquer momento poderia fugir do controle. Uma das discussões da peça é sobre o golpe vendido como revolução, e hoje isso volta à tona como uma forma de discutir tudo de novo. Que país queremos ser, que valor tem a voz das pessoas. Sempre achei que o Bailei estivesse virando cada vez mais uma peça histórica, mas hoje percebo que o país fez questão de reatualizar a peça _ analisa o autor.
Além da crítica social que se mostra atemporal, existe na fórmula do sucesso do Bailei na Curva uma certa empatia provocada pela nostalgia da infância. Mas para Conte, a importância do olhar infantil vai além de resgates emocionais:
_ Quem conta a história são as crianças, cujo olhar é livre da hipocrisia do olhar adulto. Elas não aceitam convenções. Ou acreditam ou não acreditam. Esse olhar infantil é muito denunciador, mas de uma maneira muito querida e muito humana. No fundo, é uma peça sobre esperança.
Caxiense de Forqueta, de onde saiu aos 8 anos rumo a Porto Alegre, Júlio Conte considera cada volta a Caxias uma viagem no tempo, da mesma forma que o Bailei se propõe a fazer. Mas num tempo muito particular, em que viajar os 17 quilômetros da antiga vila até a cidade era como cruzar o Oceano Atlântico, como define.
_ Quando a família viajava para a cidade, entrávamos num outro mundo. Havia as luzes nos anúncio das lojas, tinha o Cinema Ópera, tinha sorvete. Até hoje, ir a Caxias é uma viagem emocional. Tem muito a ver com o clima do Bailei, de lembrar da criança que um dia fomos _ compara.
O diretor também recorda que Caxias foi o destino da primeira viagem do Bailei na Curva, em 5 de dezembro de 1983, para apresentação no mesmo teatro, à época chamado apenas de Teatro Municipal. Três décadas depois, o premiado espetáculo já soma quase um milhão de espectadores, por palcos do Brasil e do exterior. Mas o caminho até o berço do criador nunca foi esquecido.
SERVIÇO
O quê: Espetáculo Bailei na Curva
Realização: Complexo Criativo Cômica Cultural
Onde: Teatro Municipal Pedro Parenti (Rua Doutor Montaury 1333)
Quando: Sexta, às 20h
Quanto: R$ 30 (R$ 15 estudantes, classe artística e sêniors);
Importante: devido à alta procura, os ingressos podem ser adquiridos antecipadamente na Casa da Cultura, de segunda a sexta-feira das 8h às 17h. Na sexta, os ingressos estarão disponíveis na bilheteria do teatro duas horas antes.
FICHA TÉCNICA
Direção: Júlio Conte
Roteiro e texto final: Júlio Conte, Cláudia Accurso, Flávio Bicca Rocha, Hermes Mancilha, Lúcia Serpa, Márcia do Canto e Regina Goulart
Música-tema: Flávio Bicca RochaElenco: Ana Paula Schneider, Catharina Conte, Eduardo Mendonça, Guilherme Barcelos, Laura Leão, Leonardo Barison, Manoela Wunderlich e Saulo Aquino
Iluminação: Gabriel Lagoas
Sonoplastia: Ismael Goulart
Projeções: Cristiano Adeli
Produção executiva, assessoria de imprensa e mídias sociais: Gustavo Saul
Coordenação de Produção: Patsy Cecato
Realização: Complexo Criativo Cômica CulturalClassificação: 12 anos
Duração: 120 minutos