As origens do filme O Lado Ruim da Paz, que abre nesta sexta-feira a programação do ano na Dom Quixote Livraria e Cafeteria, em Bento Gonçalves, têm tudo a ver com a coproprietária do espaço, Eunice Pigozzo. Como bibliotecária da Biblioteca Pública Castro Alves, ela trabalhou no ano passado com três grupos de jovens dentro do projeto Recode, visando aproximar a gurizada das diversas manifestações culturais.
Um dos grupos – autointitulado Litearte Protagonistas do Amanhã – mostrava inclinações para o audiovisual, e, por isso, Eunice resolveu lançar um desafio:
– Quando ela disse, "vamos fazer um filme", eu respondi, "vamos" – lembra o diretor da produção, Marcos Vítor Prado, de apenas apenas 13 anos (e que pretende seguir carreira na área).
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E foi assim que, em apenas três meses, ele e seis amigas – Laura Bergozza Pereira, 15, Júlia Nichet, 14, Êmelly Coghetto, 14, Lauren Bianchi, 14, Maria Eduarda Signor, 13, e Vitória Azambuja, 13 –, produziram o curta-metragem de suspense, com 20 minutos de duração. Escreveram o roteiro, dirigiram, fizeram a iluminação, conseguiram locações (as casas de Júlia e da tia dela, além do porão da biblioteca e o cemitério), convidaram atores. Fizeram até um convite para a mentora, Eunice: que participasse também.
– Achei que era uma ponta, e acabou sendo o papel principal – diverte-se a bibliotecária-livreira-atriz, que na trama vive uma viúva que descobre pistas intrigantes sobre o assassinato do marido, um policial.
Marcos, Laura, Júlia e Êmelly contam que, sem verbas, foi tudo feito no improviso. Depois de dois meses escrevendo ("a gente queria fugir dos clichês, se lembrávamos já ter visto algo, tirávamos"), passaram às filmagens, feitas com uma filmadora amadora de Marcos e uma câmera fotográfica de Laura. Cada um ganhou uma tarefa na produção, e a maioria fez pontas como ator (exceto o responsável pela direção). Deu trabalho, mas também foi divertido:
– Às vezes a gente ia gravar e via que uma toalha não estava mais ali, tinha ido para lavar, ou que não tinha pão e na cena anterior havia um sanduíche – lembra Júlia, enquanto Laura acrescenta que a última cena foi gravada às 7h da manhã da véspera da estreia.
Ainda no ano passado, os jovens cineastas fizeram duas sessões – pré-estreia e estreia –, para convidados, na Casa das Artes. Em novembro, levaram a produção para a Feira do Livro de Porto Alegre, e agora vão exibi-la para o público em geral. Também fizeram um DVD com a produção, que estará à venda hoje, a R$ 10 a unidade, para ajudar a financiar o próximo trabalho. Sim, a empolgação com o projeto foi tanta que, além dos planos de inscrever o curta para festivais e mostras, já começam a se organizar para o próximo filme:
– Na segunda-feira, teremos a primeira reunião para começar a pensar o roteiro – conta o diretor, que desta vez quer filmar com mais calma e planejamento.
O próximo filme, ainda sem nome, deve ser uma mescla de drama e comédia. Os temas devem envolver um conflito LGBT, amizade e mundo virtual.
A exibição de O Lado Ruim da Paz, nesta sexta, ocorre às 19h, com entrada franca. A Dom Quixote Livraria e Cafeteria fica na Rua 13 de Maio, 581, sala 103, no Centro Comercial 13 de Maio, em Bento Gonçalves.