O ambiente onde se passa a história de O Vale do Amor – drama que estreia nesta quinta na Sala de Cinema Ulysses Geremia – é tão importante quanto os próprios personagens vividos pela impressionante dupla francesa Isabelle Huppert e Gérard Depardieu. Na história, os dois são um ex-casal que se reúne para realizar o último desejo do filho, que se matou seis meses antes. O encontro é no deserto californiano do Vale da Morte, cenário que, além do nome bem adequado à situação, realça toda a angústia e sofrimento emocional dos dois. Seja por meio do calor insuportável ou das paisagens belas, porém, inatingíveis.
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O francês Guillaume Nicloux (A Religiosa, 2013) dirigiu e roteirizou o longa oferecendo ao espectador uma jornada de dor mas também de esperança e auto compreensão. As motivações para o reencontro dos protagonistas são cartas que o filho deixou para ambos antes de tirar a própria vida. Em meio a palavras emocionadas do rapaz que vivia distante dos pais, surge o pedido para que eles se encontrem naquela data e naquele lugar específicos. As cartas trazem ainda uma promessa impossível do jovem, motivo de discussões entre o cético pai e a esperançosa mãe. O reencontro do ex-casal promove uma série de reflexões sobre o que poderia ter sido feito diferente na relação com o filho, e expõe as fraquezas da família.
A dupla protagonista é dona da narrativa de O Vale do Amor, ou seja, se não houvesse Huppert/Depardieu provavelmente não haveria esse filme. Prova disso é a decisão do diretor em batizar os personagens com os nomes reais (há ainda algumas outras coincidências entre ficção e realidade que vamos manter em segredo aqui). O desempenho dramático dos atores envolve o espectador numa gangorra de sentimentos que passa, inclusive, por momentos de certo suspense. A sensação de vazio e perda compartilhada entre os dois acaba encontrando uma espécie de acalento na presença de um para o outro. São diferentes maneiras de lidar com o luto, mas é a mesma perda.
Indicado à Palma de Ouro no Festival de Cannes, o longa foi premiado com o César pela direção de fotografia de Christophe Offenstein. De fato, cada quadro na telona parece triplamente grandioso com a composição Huppert+Depardieu+as belas silhuetas do Vale da Morte. A câmera de Nicloux também é certeira ao se transformar numa espécie de presença – talvez a do filho que os pais tanto desejam reencontrar – sempre acompanhando os passos dos protagonistas de perto (seja andando atrás, ao lado ou a frente deles).
O Vale do Amor é ainda cheio de possíveis metáforas, como as feridas que se abrem na pele dos personagens em lugares do corpo que podem lembrar as chagas de Cristo. Se ser mãe/pai é padecer no paraíso, talvez a relação faça sentido, manifestando o poder catártico do amor ainda que por meio do sofrimento.
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PROGRAME-SE
:: O que: estreia do drama francês O Vale do Amor
:: Quando: estreia nesta quinta e fica em cartaz até 11 de dezembro, com sessões às 19h30min (quinta e sexta) e 20h (sábado e domingo)
:: Onde: Sala de Cinema Ulysses Geremia, no Centro de Cultura Ordovás (Luiz Antunes, 312)
:: Quanto: R$ 10 e R$ 5 (estudantes e idosos)
:: Duração: 91min
:: Classificação: 12 anos
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:: O Vale do Amor é a terceira parceria de Isabelle Huppert e Gérard Depardieu no cinema. Eles também atuaram juntos em Corações Loucos (1974) e Loulou (1980).