Bem que tinham me dito! Pois, de tanto me contar, resolvi dar uma espiadela. Não que eu fosse, exatamente, com esse único propósito. Tenho o cuidado de selecionar minhas escolhas pessoais e quando me falam de mau gosto, eu procuro fugir do contágio. Para quem ainda não se flagrou, estou me referindo ao pinheirinho montado na Praça Dante Alighieri. Esse magistral bardo italiano deve estar morrendo de vergonha, apavorado e solidário comigo. Para ser sincero, eu acho que os críticos foram, até, muito comedidos diante de tamanha barbaridade. Estaríamos no "Inferno de Dante"?...
Eu não faço a menor ideia se querem saber ou não a minha modesta opinião que, de resto, pouca ou nenhuma importância tem. Em todo o caso, talvez pelas lembranças infantis, eu sou do tempo em que gastar em presépio não era ostentação humana, mas uma louvação das almas ao Senhor. Mesmo não me considerando um exigente, eu custei a acreditar. O choque da surpresa foi semelhante a um soco na boca do estômago, tipo aqueles golpes baixos dos pugilistas sem classe e sem recurso.
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Ora, ora, direis não ouvir e nem ter visto estrelas. Pobre poeta Bilac! Eu, como ele, confesso também não ter ouvido os sinos badalarem e muito menos imaginar que "aquilo" poderia ser a árvore natalina da praça central da segunda maior cidade gaúcha e a primeira do interior. Uma das mais ricas fontes arrecadadoras da nação. Ou será que, aqui, só agimos em função do deus dinheiro? Não, eu devia estar com as lentes opacas ou ter perdido, transitoriamente, a visão. Tudo, menos aquela coisa. De algum lugar, o verdadeiro Deus está nos vigiando.
Então, é assim que reverenciamos a data principal da Humanidade? Poupando míseros centavos com a esfarrapada desculpa que é preciso contenção? Concordo que os tempos são de crise e cabe fechar as torneiras. Mas não é por aí. A mim, particularmente, parece uma descortesia e um desrespeito. Logo numa comunidade de tamanho fluxo de caixa, de produtividade fantástica e de robustos impostos. É esse o presentinho mixuruca que nossa ativa e obreira população merece? E é assim, avarentos e usurários que estamos saudando ao nascimento de Cristo? Se a hora não é de esbanjar ou de exorbitar em opulências, pelo menos que o Natal fosse mais exaltado e exultado. Preferível que tais "enfeites" nem saíssem do armário. Uma "vaquinha" de um pila por cidadão teria sido a salvação da lavoura.
Ah, sim! Dir-se-á que isso é um exemplo de sobriedade, quando é o contrário que parece. Já estou ouvindo os sermões dos profetas dos templos: "Sejamos sóbrios, nada de despesas supérfluas e pinheiros sofisticados. Mirem-se em nossa modelar dignidade! Afinal, Jesus nasceu numa manjedoura". Oh, my God! Poupem os gastos, mas me poupem de baboseiras. Em épocas de guerra, mensagens de esperança e não de desencantos. Com todo respeito aos mais pacatos vilarejos, nem eles devem ter feito tão pouco e tão desgracioso em sua simplória humildade.