Alimentando sonoridades: escutar a banda caxiense Não Alimente os Animais é embarcar num submarino (yellow?) e ser submergido a um ambiente onde as cores vibrantes dos anos 1960 e 1970 se transformam também em estética sonora. A viagem não será morna, já que você ocupará um assento entre um piano e um órgão, ambos a todo gás. Também haverá uma guitarreira cheia de groove ocupando a mesma tripulação. E o serviço de bordo oferecerá doses de energia, psicodelia e até certa melancolia aos que estiverem com o apetite mais aguçado. A passagem é de graça, já que o primeiro disco dos caras está disponível para download em todas as plataformas digitais desde o dia 14 de novembro.
Leia mais:
Que tal um brigadeirão rápido no fim de semana?
3por4: Banda caxiense Cuscobayo fará turnê na Argentina
Funkalister se apresenta domingo ao ar livre no Centro de Cultura Ordovás, em Caxias do Sul
O quinteto, formado em 2014, tem algumas "inconvencionalidades" super bem-vindas na concepção. Entre elas está a presença de dois tecladistas (um mais dedicado ao piano e outro ao órgão) e de quatro vocalistas (apenas o baterista não canta). As composições também são assinadas em conjunto, reforçando o perfil colaborativo do grupo.
– É uma formação um pouco inusitada, acho que a presença de dois teclados deixa o som mais harmônico – opina Luis Fernando Alles (guitarra e vocais), que integra a Não Alimente os Animais ao lado do irmão, Alexandre Alles (teclados/vocais), e de Felipe Magon (teclados/vocais), Lucas Chini (baixo/vocais) e Lucas Reis (bateria).
– Eu sou organista, sempre estudei Hammond (modelo clássico de órgão, muito utilizado por bandas de rock) e o Alexandre é bacharel em piano. Essa combinação de timbres dá características muito fortes à nossa música – observa Magon, acrescentando que a banda utilizou instrumentos originais nas gravações do disco, nos estúdios da Acit.
As referências unânimes entre os integrantes da banda circulam entre as mais óbvias – Beatles, Led Zeppelin, Pink Floyd, Deep Purple – até o funk de James Brown e Albert King, passando ainda por ícones nacionais como Tim Maia, Elis Regina e Mutantes. Apesar da ligação com sons de décadas passadas, a Não Alimente os Animais mantém o portal aberto aos dias de hoje, sem purismos bestas.
– Gosto de deixar claro que não somos conservadores, soamos assim naturalmente, mas ainda assim somos uma banda de agora, com músicas compostas por pessoas que estão vivendo o agora – esclarece Magon, citando alguns grupos contemporâneos que fazem sua cabeça, como Alabama Shakes e Monophonics.
Com mixagem e masterização da Retrola Discos (sob os cuidados de Vini Lazzari, da banda Velho Hippie), Não Alimente os Animais apresenta um som orgânico e vivo, perfeita sintonia com as cabeças animalescas que estampam a capa de seu primeiro álbum.
Ouça:
Gostinho do que vem: Com lançamento previsto para o início do ano que vem, o álbum
– Essa música tem a cara do disco, ela resume o álbum. Estamos num resgate dessa parada mais nativa, misturando ritmos – diz o vocalista e guitarrista Vinícius Lima.
A identidade atual da banda dá espaço para instrumentos como gaita, bumbo leguero, percussão e violão, todos utilizados na gravação do último disco (custeado via Financiarte). Ao mesmo tempo que as letras carregam certo tom de poesia gauchesca – com a gaita ornamentando esses elementos perfeitamente – há ainda detalhes de frescor "hardcoreano" representado por guitarras nervosas e refrões gritados a plenos pulmões. Mistura que ganha amparo nos terrenos sem fronteiras de nossos tempos.
Ouça: