A falta de perspectivas está na origem do punk, com os Sex Pistols anunciando a quatro ventos que o futuro não existia. Curiosamente, muitas das bandas que participaram do período seminal do movimento contrariaram suas próprias previsões – pelo menos no que diz respeito à música – e seguem na ativa mesmo décadas depois. Os Replicantes são um exemplo disso. Estão há 33 anos na estrada simplesmente porque nunca descobriram algo mais satisfatório do que tocar, viajar, conhecer pessoas e colocar um bando de garotos para “pogar” como nos velhos tempos.
Leia mais:
3por4: Banda Bordogos lança videoclipe nesta sexta na Cachaçaria Sarau
3por4: Natal do Metal reúne três bandas para show beneficentes sábado na UAB Cultural
Ensaio geracional histórico, "Blow-up" volta aos cinemas restaurado
– Sempre encaramos a banda como diversão, nós nunca imaginamos sair da garagem que a gente começou a tocar. Mas às vezes as pessoas me perguntam como eu aguento ainda fazer isso depois desse tempo todo. Eu sempre digo “se tu me apresentar outra coisa que seja tão legal quanto tocar, troco na hora”. Até hoje nunca aconteceu – conta o baixista Heron Heinz, um dos fundadores da banda com o irmão, o guitarrista Claudio Heinz.
Os Replicantes são atração em Caxias nesta sexta ao lado de três bandas locais que estão há pelo menos 15 anos tocando no underground da região (leia abaixo). Não por acaso a festa foi batizada de Old Punk Rock Night, algo como “noite do punk rock das antigas”. Assim como o grupo porto-alegrense, o Brasil guarda outros grandes nomes do punk que permanecem em plena atividade desde os primórdios dos anos 1980, como Cólera, Ratos de Porão e Olho Seco. Outra razão para a longevidade está, certamente, na veia crítica dessas bandas – característica que se atualiza na mesma proporção que os ares políticos/sociais do mundo ficam mais pesados. Sendo assim, se hoje você ouvir Johnny Rotten cantando que “não há futuro”, provavelmente ainda soará bem atual.
– A fase atual que estamos vivendo no Brasil volta 30 anos, para quando Os Replicantes surgiram. A gente se dá conta do retrocesso, e de novo temos razões para cantar aquelas músicas. A necessidade de compartilhar o que achamos que precisa ser compartilhado é um grande estímulo às bandas, e à arte em geral – opina Heron.
No caso dos Replicantes, o tal estímulo também se reverte em novidade, já que a banda prepara um disco inédito para o ano que vem. No show em Caxias, o repertório deve antecipar alguns desses sons, afinal, com um nome inspirado em Blade Runner, nada mais justo que Os Replicantes apostem no futuro.
Mantendo a cena
O som, o posicionamento e a própria longevidade dos Replicantes são também inspiração para as outras três atrações da Old Punk Rock Night. A Panorama Social tem 16 anos, enquanto Corpo Presente e Teoria do Kaos contabilizam 15 cada. Todas têm trajetória focada na produção autoral.
– Fazer com que as pessoas vibrem e reflitam ao ouvir uma canção sempre foi nosso objetivo – resume Rafael Debastiani, vocalista da Corpo Presente.
A banda tem dois discos lançados e procura atualizar suas composições conforme o cenário social/político "solicita".
– Com o passar do tempo, questões sociais, políticas e filosóficas não têm faltado para nos inspirar nas composições, estamos sempre ligados nestes assuntos, nos faz pensar melhor e compor melhor, consequentemente – complementa.
Assim como a Corpo Presente, a Panorama Social e a Teoria do Kaos têm investido na cena autoral desde o início, apesar das dificuldades que o underground apresenta.
– Uma vez tinha mais parceria entre as bandas, o público se respeitava mais. Mas agora sinto que isso está voltando um pouco – comenta Jocemar Muller Boeira, integrante das duas bandas.
– Diversos fatores vão dando mais ou menos luz e alternativas à cena, mas ela sempre existiu e sempre existirá, vai impondo dificuldades à medida que vai mudando – complementa Debastiani.
Agende-se
:: O que: show com Replicantes, Corpo Presente, Panorama Social e Teoria do Kaos
:: Quando: nesta sexta, às 22h
:: Onde: Front Bar 87 (Rua Visconde de Pelotas, 87)
:: Quanto: R$ 20 + um quilo de alimento, à venda na loja Akustica Musical (Marechal Floriano, 1001). Na hora, R$ 30