Ao sonhar com a presidência todo o cidadão ambiciona o melhor. Para si e para o seu compadrio. Para o país, quem sabe. Ou não se sabe. Tudo, porém, enraizado e enroscado no orgulho pessoal. É a suprema aspiração de qualquer político de projeção. Num determinado momento, ele se julga o ungido. O iluminado. Simplesmente, o "cara". Não foi assim que Obama se referiu a Lula? Verdade que ao ensaiar seus primeiros passos internacionais e isso convinha ao ego brasileiro. Aí, Luís Inácio achou que estava por cima da carne seca – tipicamente nordestina. Não esqueçamos que para os americanos, essa é uma expressão usual, quase vulgar, corriqueira, para derreter o gelo e deixar um matuto mais à vontade no meio dos graúdos da pesada. Todavia, o processo de endeusamento alavancou e decolou. Enfim, no Brasil, alguém com poderes sobrenaturais. Uma espécie de senhor dos anéis. Até que a podridão submergiu nas profundezas de um vasto mar de lamas. E sabe-se lá o quê e o quanto mais está por vir.
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Fico a me perguntar por quais razões um homem simples e iletrado, semianalfabeto, mas supervalorizado em seu currículo, deixou-se seduzir para se transmutar no refém de seus próprios desmandos e de suas ganâncias. Depois de bajulado, idolatrado, santificado, para que tamanha cobiça, tão comprometedora e danosa? Salvo provas em contrário (que ele afirma inexistentes) só há, por enquanto, suposições de malfeitos. Fortemente graves e suspeitas. Teria se inebriado com os champanhes e caviares? Ou o néctar dos deuses (logo para ele – um deus) o contaminou instilando-lhe o veneno da jararaca do paraíso?
Lula tinha tudo para dar-se por feliz e satisfeito. Estadista realizado, um metalúrgico virado marajá. Ao se julgar intocável, acima do bem e do mal, acabou trocando as mãos pelos pés e resvalou na mediocridade, manchando sua biografia e enodoando a sua imagem, enquanto o humilde povo padece fome e privações. O irônico é que ele se gaba de ter gerado milhões de empregos, quando a atual taxa de desempregados já é quase o dobro dessa cifra demagogicamente manipulada.
Completamente desatinado, borrando-se de medo para fugir de Sergio Moro, ele atingiu o cúmulo de sua insanidade ao recorrer às cortes estrangeiras, cometendo a piada a piada do ano: quer a prisão do nosso Juiz Herói. Justamente o contrário. Ardilosamente, desafia as autoridades. Fala mal delas. Se for tão honestão assim, jurando que não é dono de nada, deveria estar tranquilíssimo. Porque quem não deve não teme e não treme. Sua atitude intempestiva mostra a outra face – a oculta: o príncipe encantado que, na verdade, não passa de um sapo barbudo. Acuado e receoso ao extremo é de se pressupor que, neste caso, tudo indica que a culpa não seja do mordomo e, sim, das mordomias...