Era gélido o inverno nas duas primeiras vezes que ficamos em Gênova. Numa, eu tinha a intenção de fazer um apanhado panorâmico de sua zona portuária, interessado em reproduzir imaginariamente o embarque dos imigrantes. Fui impelido pelo desejo de elaborar um fidedigno romance que, por enquanto, dormita na gaveta. E embora já requisitado para editá-lo, ainda não me decidi. Confesso-me em dúvidas. A segunda visitação coincidiu com o famoso Festival de San Remo, no tradicional Teatro Ariston. Mas, apesar de litorânea, musical e com um frio ameno e suportável, claro que diferia das quenturas abrasadoras do verão.
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Então, firmamos um pacto para voltar no "Ferraagosto" – o fervo do veraneio. Ao invés de nos hospedarmos na capital ligúrica optamos por uma praia, a 25 quilômetros de distância, em aprazível viagem de trem, costeando a "Riviera del Ponente". Com sua rica história e deslumbrante beleza, nos alojamos em Rapallo no Hotel Giulio Cesare – um esplendoroso quatro estrelas, administrado pela família com o pitoresco sobrenome Camisa a nos oferecer o golfo do Mediterrâneo vistosamente azulado. Estávamos rodeados por coqueiros e palmeiras seculares formando um belíssimo jardim florido retocado pelas gentis montanhas descendo sobre o mar. E é interessante lembrar que em Rapallo Hemingway escreveu o conto "Gato sob a chuva", que Nietzsche desenvolveu "Assim falou Zaratrusta" e que a charmosa dupla cinematográfica Humphrey Bogart e Ava Gardner protagonizou "A Condessa Descalça". Quando me dei conta lá estava eu, em pleno cemitério, onde, sob a chuva, se passou a cena final.
Logo do outro lado da baía, a badalada Portofino – reduto exclusivo de celebridades mundiais, alcançada em travessia marítima a pouco menos de vinte minutos e dando-se o acaso, presenciamos por pura sorte, um extraordinário show ao ar livre do cantor Andrea Bocceli, numa noite de luxo, gala e encantamentos.
Daí que retornando em outras ocasiões para esse privilegiado paraíso, minha amizade com Maximiliano – o estimado "Maxim" – consolidou-se fraternamente. Nós nos queremos muito bem. Quase cinquentão, ele é o proprietário do hotel e com minha lavagem cerebral ficou fanático pelo Juventude, sabendo tudo, os mínimos detalhes. Acompanha todos os jogos. Divulga o JU com alegria e prazer. Na semana passada me enviou, obviamente em italiano, os cumprimentos pelas campanhas e conquistas do ano, tendo visto pela TV vários dos nossos jogos. Orgulha-se de possuir quatro ou cinco camisas diferentes e por mim presenteadas. Pediu-me expressamente para que eu cumprimentasse à Direção e ao Zago, salientando que "a torcida do Juventude é de Série A". E sabem o que ainda? Assim, eufórico, no mais castiço português: "Para sempre força Papo!" Não é para a gente se ufanar?